sexta-feira, 16 de março de 2012

Liturgia/Ano B - 4º Domingo do Tempo da Quaresma – 18/Março/2012


* Jesus, Vida e Luz *




1ª Leitura - 2 Cr 36,14-16.19-23: A misericórdia de Deus se manifesta pela libertação do povo. // 2ª Leitura - Ef 2,4-10: Uma vez mortos para os pecados, pela graça fostes salvos. // Evangelho - Jo 3,14-21: Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por Ele.//

Continua a liturgia deste tempo quaresmal a falar sobre o Deus que se mantém fiel apesar das infidelidades do homem. Assim, na 1ª Leitura, Deus não deixa de enviar constantemente seus mensageiros (os profetas) para admoestar as contínuas infidelidades dos hebreus, porque tinha compaixão de seu povo. Mas eles zombavam e escarneciam dos profetas até que ocorreu a destruição do templo e a deportação dos judeus para a Babilônia. É a história que ainda hoje continua a repetir-se na vida dos povos, das famílias, dos indivíduos. Quanto mais se deixa o homem dominar pelas paixões, tanto mais se fecha à Palavra Divina e rejeita os mensageiros de Deus, sufocando a voz da consciência. O ser humano nessa situação vive em desarmonia com Deus, consigo e com o próximo. Pelo Novo Testamento sabemos que Deus, rico em misericórdia, “por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. Assim, pela bondade que nos demonstrou em Jesus Cristo, Deus quis mostrar a incomparável riqueza de sua graça” (2ª Leitura). No entanto, já há dois milênios que este dom foi conferido à toda a humanidade! Para dele se beneficiar, o homem só tem que crer em Cristo, aderindo ao seu evangelho. “Com efeito, é pela graça que sois salvos ... não vem de vós, é dom de Deus para que ninguém se orgulhe” (Ef 2,8-9). Este dom gratuito da graça decorreu de acordo com o plano salvífico do Pai, totalmente apoiado na elevação e morte de seu Filho na cruz. O texto do Evangelho da missa se inicia com uma alusão à morte de Jesus sob a figura da serpente levantada por Moisés no deserto (Nm 21,8). É necessário que o Filho seja levantado na cruz! E a morte do Filho tem um efeito salvífico para todo aquele que nele crer. No deserto os israelitas feridos mortalmente pelas mordidas de cobras eram salvos, se olhavam para a serpente de bronze. Assim, também o “homem que crer no Filho elevado na cruz recebe a vida eterna” (Jo 3,15). Além do significado de se tratar de uma vida com duração ilimitada, a vida eterna significa o Reino de Deus em nós, vida de Deus como alma da nossa própria vida. A natureza primordial desta vida é o seu caráter totalmente gratuito. É dada, como o Reino de Deus é dado. Nunca é fruto simples de nosso esforço. Perante a imensurável graça de Deus obtida pela entrega de seu Filho por nós, torna-se evidente a perversidade e a maldade quando fugimos da graça divina. Sabemos que Deus não enviou seu Filho para condenar o mundo, mas para ser salvo por Ele. Esta atitude de Deus para conosco contém um apelo: criar a nossa volta um ambiente de ajuda, compreensão e perdão, evitando as condenações apressadas nos juízos, nas palavras e nas obras. O amor do Pai, manifesto em Jesus que se dá inteiramente a nós, há de estimular-nos a essa atitude de desprendimento e disponibilidade. Se nos sentimos olhados por alguém com amor, ficamos alegres, abrimo-nos para ele e ficamos felizes. Que dizer, então, se esse outro é Deus? "Nós amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro (1Jo 4,19). Amemo-nos uns aos outros já que Deus é amor, e todo que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não conheceu a Deus, porque Deus é Amor" (1 Jo 4,7-8).  
[Fontes: "Intimidade Divina", "L' Osservatore Romano", "Falar com Deus" e "Nas Fontes da Palavra" / adaptação: Dr. Wilson]

sexta-feira, 9 de março de 2012

LITURGIA/ANO B – 3º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA- 11 / 03 / 2012


* A Fortaleza do Cristão *

1ª Leitura - Ex 20,1-17: A Lei foi dada por Moisés.// 2ª Leitura - 1 Cor 1,22-25: Pregamos Cristo crucificado, insensatez para os pagãos, mas poder e sabedoria de Deus para os que creem.// Evangelho - Jo 2, 13-25: ‘Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei’.//  

A liturgia deste domingo recorda mais uma vez a fidelidade do amor do Pai para com o seu povo. Durante a caminhada do povo hebreu ao longo do deserto, saindo do Egito em direção à terra prometida, Deus renova sua aliança por meio de Moisés transmitindo-lhe os Dez Mandamentos (o Decálogo). Não se apresenta o Decálogo como fria lei moral, imposta do Alto por pura autoridade, mas como revelação da sabedoria de Deus que, depois de haver libertado o povo da escravidão material do Egito, quer libertá-lo de toda a escravidão moral (1ª Leitura). A aliança estabelecida com Moisés no Antigo Testamento é substituída no Novo Testamento pelo próprio Filho de Deus, Cristo a nova e eterna aliança. São Paulo proclama na 2ª Leitura que “Cristo crucificado é poder de Deus, sabedoria de Deus” (1Cor 1,23-24). Pretender seguir outro caminho é imitar a atitude dos judeus e dos pagãos, para quem a cruz de Cristo era escândalo e insensatez. "Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me"; e ainda: "Quem não carrega a sua cruz e me segue não pode ser meu discípulo" - esta Palavra é transcendente, dirigida a homens e mulheres de todos os tempos. Aceitar a dor e as contrariedades, cumprir com esforço os deveres próprios, é condição indispensável para seguir a Cristo. No Evangelho, Jesus manifesta e exige um profundo respeito pela casa de Deus, conforme as palavras da Escritura que seriam mais tarde lembradas pelos discípulos: “O zelo por tua casa me consumirá”. A casa de Deus o consome porque a alma do Filho está na mais perfeita união com o Pai. O gesto ousado de Cristo de expulsar os profanadores do templo mostra-nos que Deus deve ser servido e adorado com reta intenção, e não servir a religião de apoio aos nossos próprios interesses. Estritamente sinceras devem ser nossas relações com Deus e com o próximo. Do mesmo modo que Jesus oferece toda honra e glória ao Pai, cada um de nós também deve ser um adorador silencioso perante a face de Deus. Nesta total união do humano com o divino, a adoração só pode consistir na mais pura e incondicional entrega à vontade de Deus. Observa João que Jesus purificou o templo, libertando-o dos vendilhões. A Igreja, ao aproximar-se a Páscoa, repete o gesto convidando os fiéis a purificar o “templo do seu próprio coração” para que dele suba a Deus um culto mais puro. Era a este templo que se referia Cristo ao dizer: "Destruí este templo, e em três dias o levantarei". Só depois da morte e ressurreição, compreenderam os discípulos estas palavras que tanto haviam escandalizado aos judeus. É o "templo de seu Corpo", de dignidade infinita, ao qual se refere Jesus. Por meio do mistério Pascal, Cristo substituiu o templo da antiga aliança pelo seu corpo, templo vivo da Santíssima Trindade oferecido em sacrifício pela salvação do mundo, que substituiu os sacrifícios de pombas, ovelhas e bois, oferecidos em Jerusalém no Antigo Testamento. O centro da Nova Aliança já não é mais o templo de pedra e sim "Cristo crucificado", loucura para o mundo, mas poder e sabedoria de Deus para os que nele creem e O amam!  

[Fontes: "Intimidade Divina", ”L 'Osservatore Romano", "Falar com Deus", "A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração" e "Nas Fontes da Palavra" / adaptação: Dr. Wilson]

sexta-feira, 2 de março de 2012

LITURGIA / ANO B – 2º DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA – 04 / MARÇO / 2012


* Este é o meu Filho muito amado! *



1ªLeitura - Gn 22,1-2.9-13.15-18: O sacrifício de Abraão.// 2ªLeitura - Rm 8,31-34: Deus não poupou seu próprio Filho.// Evangelho - Mc 9,2-10: Este é o meu Filho muito amado.//  

A liturgia do 2º Domingo da Quaresma desenvolve-se a partir da figura de Abraão, o "pai dos crentes”, que pela sua fé acredita na voz de Deus impelindo-o a viver como nômade, indo de lugar em lugar conforme as decisões divinas (1ª Leitura). Está disposto a sacrificar Isaac, seu único filho, que sobe o monte levando às costas a lenha do sacrifício e sobre ela se deixa amarrar docilmente. O filho Isaac é imagem que prefigura o Cristo que subirá o Calvário levando o lenho da cruz sobre o qual se deixará estender. Sabemos que no Antigo Testamento o Deus-Pai intervém e não deixa que se complete o sacrifício do filho de Abraão. Entretanto, no Novo Testamento, o Pai permitirá que seja consumado o sacrifício de seu próprio Filho: "Ele não poupou o próprio Filho, mas o entregou por todos nós" (2ª Leitura). Quando Jesus fez o primeiro anúncio de sua Paixão provocou em Pedro, Tiago e João uma grande angústia, traduzida pelo escândalo da cruz. Entretanto, para confirmar sua divindade oculta e fortalecer a fé dos apóstolos, Jesus se transfigurou diante deles no monte Tabor: "Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar" (Evangelho). São os mesmos discípulos que um dia deverão assistir à agonia de Cristo no Getsêmani. A transfiguração de Jesus é uma antecipação da sua ressurreição. Da mesma maneira que Cristo, cabeça de seu corpo místico que é a Igreja se transfigura, também os seus membros conhecerão a transfiguração: "Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai" (Mt 13,43). São Paulo declara o mesmo, afirmando: "Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então vós aparecereis também com Ele, revestidos de glória" (Cl 3,4). O episódio da transfiguração mostra também a união do Antigo com o Novo Testamento: Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, aparecem conversando com Jesus que traz o Evangelho. De fato, as páginas de ambas as alianças se confirmam mutuamente como afirma São João: “Por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo” (Jo 1,17). Jesus é o grande esperado e prometido pelo Antigo Testamento. Quem é ele? Enquanto os apóstolos presentes no Monte Tabor ainda não entendem plenamente o que está acontecendo, a voz do Pai se manifesta: "Este é o meu Filho muito amado. Escutai o que ele diz. (Mc 9,7). A voz não convida para que eles admirem a transfiguração, mas simplesmente insiste que eles “O ouçam”. Ouvir a Jesus significa descer da montanha e ainda agüentar a ambigüidade da vida. Significa crer na luz do invisível dentro de um mundo embrutecido onde grita tudo o que é capaz de inebriar os sentidos. Também hoje, mais importante do que ver a transfiguração é poder ouví-Lo. Sua Palavra é a poderosa presença dele mesmo e nos conduz pela quaresma desta vida, garantindo-nos que após todas as promessas que o mundo nos traz, virá a certeza de sua Páscoa. A celebração da transfiguração só terá um sentido para a Igreja de hoje se ela estiver disposta a receber a admoestação final: “Ouví-o”. A esperança nos diz que a graça de Deus, que já começou um dia em nós de modo tão insignificante, virá a ser em plenitude a verdade nova e exclusiva do nosso ser. É melhor não fazermos as tendas aqui, nem com o pretexto de contemplarmos a glória do Senhor. É necessário descermos a montanha ouvindo e guiados por sua Palavra, “para servir a Deus e aos irmãos em justiça e santidade, enquanto perdurarem os nossos dias!”(Cântico: o Benedictus).  

[Fontes: ”Intimidade Divina”, “A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração” e “Sermões de São Leão Magno, Papa” - adaptação: Dr. Wilson]