quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LITURGIA / ANO A – 8º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 27 / FEV / 2011

* Não podeis servir a dois senhores. *1a Leitura - Is 49,14-15: Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno?// 2a Leitura – 1 Cor 4,1-5: Irmãos, que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo.// Evangelho - Mt 6,24-34: Ninguém pode servir a dois senhores.//
Era um fato bem conhecido entre os judeus. Ninguém podia ser escravo de dois senhores ao mesmo tempo. Os dois senhores, porém, a quem Jesus se refere no Evangelho deste domingo, não são senhores comuns. Eles são Deus e os bens materiais. O discípulo de Jesus deverá escolher entre estes dois senhores. O homem que coloca os bens temporais como finalidade última de sua vida, que ama esses bens acima de tudo e que para alcançá-los não mede os meios, terá necessariamente que rejeitar a Deus. Este texto do evangelho está relacionado com a oração do Pai-nosso (Mt 6, 7-13).
A verdadeira posição do discípulo de Cristo em relação aos bens materiais é a expressa na oração ensinada por Jesus: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6,11). Em outra parte do evangelho (narrado por Lucas), encontramos a parábola do rico que se preocupava somente em aumentar os seus bens, que de repente morreu (Lc 12,16-20), trazendo o ensinamento paralelo “de não ajuntar tesouros para si mesmo, e deixar de ser rico para Deus” (Lc 12,21).
Em certo período de provação, Israel dizia: “O Senhor me abandonou, o meu Deus me esqueceu” (1a Leitura). Mas Deus responde pela boca do profeta Isaías: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno? Se ela se esquecer, Eu, porém, não me esquecerei de ti”. Como aqueles israelitas, precisamos nos convencer de que não há obstáculo capaz de impedir que se restaure o amor e a relação filial com o Pai, exceto a dureza impenitente do coração humano.
Quem conhece o amor fiel e a providência de Deus, é menos vulnerável à dispersão que os outros falsos deuses possam exercer, em particular o dinheiro que seculariza a mente e o coração. É certo que as subidas dos preços, o balanço das despesas e ganhos estarão inevitavelmente no primeiro plano e atenção de uma família, e não é difícil que ameacem ocupar o centro da vida. Mas também é certo que, qualquer que seja a gravidade das situações, as pressões deverão ser administradas numa atitude espiritual amadurecida. “Quem de vós pode prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso?” (Mt 6,27). No evangelho de hoje é introduzida uma comparação com as aves do céu que não plantam e, contudo recebem de Deus o alimento necessário. Nem as aves do céu deixam a sua luta pela vida, nem o homem deve voltar ao nível primitivo dos caçadores pré-históricos quando vive a realidade do mundo moderno. Por isso a imagem quer ser interpretada simbolicamente. Comparada com o homem, a ave é passiva, não prepara nem organiza sua comida, mas a encontra maravilhosamente ao alcance do seu vôo. Assim o ser humano, mesmo trabalhando, organizando e buscando, deve viver uma constante atitude de quem foi agraciado.
Os mais sublimes valores nos são dados de graça. Por isso, só podemos ter gratidão. A alegria, a amizade, a vida, são formas grandes e eloqüentes desta graça que nos circunda. “Toda dádiva boa e todo dom perfeito vem de cima: desce do Pai das luzes” (Tg 1,17). O ponto central da liturgia de hoje aponta para “buscarmos primeiro o Reino de Deus e tudo mais nos será dado por acréscimo” (Mt 6,33) e que “só em Deus a minha alma tem repouso..., só ele é meu rochedo..., a fortaleza onde encontro a segurança” (Salmo da missa). Como orava Santo Agostinho na primeira página de suas Confissões: “Fizeste-nos, Senhor, para ti e nosso coração está inquieto até que descanse em ti”.
[Fontes: "A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração" e "Intimidade Divina" / adaptação: Dr. Wilson].