quinta-feira, 31 de março de 2011

LITURGIA / ANO A – 4º DOMINGO DA QUARESMA - 03 / ABRIL / 2011

* Iluminados por Cristo *

1a Leitura - 1Sm 16,1.6-7.10-13: Davi é ungido rei de Israel.// 2a Leitura - Ef 5,8-14: "Outrora éreis trevas, mas agora sois luz do Senhor".// Evangelho - Jo 9,1-41: O cego foi, lavou-se e voltou enxergando.//

Neste domingo, a meio da Quaresma, é abordado o tema do batismo. No evangelho do domingo passado, a água oferecida por Cristo à samaritana também é interpretada pela Igreja como um símbolo batismal, início de fonte de vida de plenitude sem fim. A unção real do jovem ainda pastor Davi, por meio da qual o profeta Samuel o consagra a Deus (1a Leitura), é representação do batismo cristão, sacramento de fé que torna a pessoa ungida iluminada pelo Espírito Santo.

À semelhança de Davi, somos como ele eleitos e consagrados. Lembrando dessa nossa consagração, devemos renovar a graça do nosso batismo durante a Quaresma e refletir se somos realmente fiéis à nossa vocação em meio ao povo de Deus. É o que o apóstolo São Paulo nos recorda na 2a Leitura, para que andemos como filhos da luz: "Outrora éreis trevas, antes do batismo, mas depois que Cristo vos iluminou, sois luz! Vivei como filhos da luz" (Ef 5,8). ‘Viver como filhos da luz’, que significado tem para nós esta expressão? As nossas palavras e atitudes podem iluminar ou ser causa de perturbação. Segundo São Paulo, os que foram iluminados por Cristo devem produzir frutos de bondade, justiça e verdade. Estes termos simples, que toda a gente compreende, são de aplicação concreta e imediata: ser bom, ser justo, ser verdadeiro. Assim deve apresentar-se o cristão.

No Evangelho deste domingo, o batismo é interpretado como sinal que ilumina os olhos de um cego de nascimento, que caminha como peregrino no escuro, a quem Jesus restitui a preciosa visão, tornando-o acima de tudo iluminado pela graça divina. Ao dizer: ‘recebe a luz de Cristo’, o presidente da celebração batismal dirige uma exortação ao batizado, por meio dos pais e padrinhos que têm sua responsabilidade educativa, para ‘viver como filho da luz’. A fé é um encontro com a luz de Cristo e, para que caminhemos em uma progressiva iluminação interior, a primeira condição é a humildade de coração. Ao examinarmos um cego de nascença, encontramos nele uma humildade natural em função de sua limitada condição. Ele é um desses ‘pequenos’, como Davi na 1a Leitura, para cujo coração o Senhor olha com predileção. É um dos ‘pobres’, aos quais Jesus considera bem-aventurados porque a eles é oferecida a felicidade do reino. O primeiro gesto do cego no evangelho de hoje, é um testemunho de fé humana. Entregar-se confiante, mansamente, sem entender nada, sem queixas nem observações, quando é aplicada sobre seus olhos a lama obtida da mistura da terra do chão com a saliva de Cristo, só é possível com a admirável simplicidade e humildade do cego de nascença. O seu segundo gesto, de caminhar de forma obediente até a fonte, tateando com o rosto enlameado para lavar-se em suas águas, confirma sua atitude humilde como participante ativo de quem vai ao encontro da luz. Mais tarde, o ex-cego de nascença se depara com o medo expresso de seus pais em despertar a ira dos fariseus, caso dessem testemunho de sua cura, receando a perseguição daqueles “doutores” tão apegados à sua Lei, que não aceitavam identificar o milagre como tendo sido feito por Jesus. Enquanto aqueles se afundavam nas trevas, o ex-cego cresce na fé e, no seu segundo encontro com Cristo, reconhece-o como Deus em ato convicto de adoração: ‘Eu creio, Senhor! E prostrou-se diante de Jesus’ (Jo 9,38)

A Quaresma é ocasião para limpar os nossos olhos com o colírio da fé. Cegos também nós nascemos de Adão e precisamos ser iluminados por Cristo. ‘Se o amas, segue-O. Mas se respondes: Não vejo o caminho, lembra-te que Ele também deu a vista aos cegos’ (dos tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho).

[Fontes: ‘L Osservatore Romano’,‘Intimidade Divina’, ‘Nas Fontes da Palavra’ e ‘Palavra de Deus e Nova Evangelização’ - adaptação: Dr. Wilson]

quarta-feira, 23 de março de 2011

LITURGIA / ANO A – 3º DOMINGO DA QUARESMA – 27 / MARÇO / 2011

* A ÁGUA VIVA DO ESPÍRITO SANTO *

1a Leitura - Ex 17,3-7: "Dá-nos água para beber!" // 2a Leitura - Rm 5,1-2.5-8: "O amor foi derramado em nós pelo Espírito que nos foi dado".// Evangelho - Jo 4,5-42: "Uma fonte de água que jorra para a vida eterna".//

O coração humano, bem o sabemos, tem uma insaciável sede de felicidade e de libertação total. A sede pode adquirir significados diversos: uns materiais, outros espirituais. Temos sede de água e de carinho, de dinheiro e de felicidade, de cultura e de dignidade, de pão e de verdade, de justiça e de direitos humanos. Entretanto, apesar do constante progresso da ciência e crescimento tecnológico, surge paralelamente o aumento da auto-suficiência material do homem moderno, resultando em inevitável perda espiritual.

Como preencher o vazio interior, fruto da ausência de valores autênticos e produto do materialismo consumista? As ofertas não faltam como os tradicionais "ter" e "gastar", "a glória" e "o poder", o sexo, o álcool ou o seu ‘requinte’ atual da dependência química por drogas. E entre as ofertas de cunho moderno e pretensamente espiritual, proliferam as seitas pseudo-religiosas, muitas das quais vendem paz interior, equilíbrio emocional, autocontrole psíquico, felicidade e domínio de si mesmo a muitos incautos, desde que se submetam à indispensável lavagem cerebral. Seu fim é o desencanto ou a alienação inevitável. Por isso ficará sempre flutuando em nossa existência a intuição genial e definitiva daquele grande sedento do infinito que foi Santo Agostinho. Ao voltar-se para Deus, iniciando a redação de suas Confissões, disse em oração: "Fizeste-nos Senhor para ti; e nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti". Também o Salmo 41 proclama assim esta tão radical experiência: "Como a corsa deseja as águas correntes, assim minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando hei de ver a face de Deus?" Ambos os textos refletem uma inegável verdade acerca do ser humano. Deus nos fez à sua medida e só Ele pode preenchê-la com sua própria plenitude de vida. "Dá-nos água para beber" (1a Leitura), dizia a Moisés o povo devorado pela sede no deserto. Moisés, por ordem de Deus, bateu na rocha e dela jorrou água em abundância. "Aquela rocha era Cristo", afirma São Paulo (1 Cor 10,4), era a figura do Messias, fonte não de água material, mas espiritual; "água viva" oferecida não a um só povo, mas a todos os povos para que todo ser humano se sacie e não "sofra mais sede para sempre" (Evangelho).

Esta realidade é ilustrada na cena evangélica de hoje, no encontro da samaritana com Jesus que, cansado de sua viagem, havia parado e encontrava-se sentado por volta do meio-dia junto ao poço (Jo 4,6). A água do poço de Jacó só consegue saciar o homem por um curto espaço de tempo, mas a água que Jesus oferece torna-se dentro de quem a recebe, uma fonte capaz de saciar para sempre. Mas a mulher ainda não compreende o significado profundo das palavras de Jesus, ela as interpreta de um modo terreno. Ela deseja essa "água mágica" que lhe poupará para sempre o trabalho de vir, todos os dias, buscar água no poço. Qual é essa "água viva" que Jesus poderá oferecer? É a vida no Espírito Santo que nos é comunicada para tornar-se nascente do divino em nós. Deus se torna verdadeira fonte de vida a partir do momento em que Ele é comunicado aos seres humanos, como aconteceu com a samaritana após o encontro com Jesus. E ela, por sua vez, foi à cidade e comunicou ao povo com entusiasmo sua experiência: "vinde ver: não é ele o Cristo?" (Jo 4,29).

E "muitos samaritanos da cidade abraçaram a fé por causa do testemunho daquela mulher" e creram depois não mais por causa das palavras dela (ou do nosso testemunho), mas em virtude de sua própria experiência ao aproximar-se da fonte divina. "Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo" (Jo 4,42). E São Paulo completa na 2a Leitura: "Por ele fomos justificados, por ele tivemos acesso pela fé a esta graça na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,5).

[Fontes: "A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração", "Intimidade Divina", "Nas Fontes da Palavra" e "Palavra de Deus e Nova Evangelização" / adaptação: Dr. Wilson].

quinta-feira, 17 de março de 2011

LITURGIA / ANO A – 2º DOMINGO DA QUARESMA – 20 / MARÇO / 2011

1a Leitura - Gn 12,1-4: Vocação de Abraão, pai do povo de Deus. // 2a Leitura - 2Tm 1,8-10: Deus nos chama e ilumina. // Evangelho - Mt 17,1-9: O seu rosto brilhou como o sol. //

A nossa vida terrestre pode ser visualizada como uma verdadeira quaresma rumo à páscoa definitiva da ressurreição. Na quaresma da vida, duas brilhantes imagens se alternam com freqüência, manifestando-se na forma de promessas. Algumas são deslumbrantes, mas ilusórias, cheias de enganosas promessas à semelhança das tentações do deserto (evangelho do domingo passado).

Outras imagens brilham como as promessas feitas por Deus a Abraão na 1a Leitura: ”Vai para a terra que eu te mandar e eu te abençoarei e farei de ti um grande povo. A história vivida por Abraão sugere que a verdadeira vida cristã é como um colocar-se a caminho, tateando pelo deserto, obediente ao plano do Pai (1ª Leitura). Nesta caminhada somos fortificados pelo poder de Deus que nos chama a uma vocação santa (2ª Leitura) e na perspectiva de nossa transfiguração à semelhança de Cristo (Evangelho). Para alguém se pôr a caminho com obediência à fé em profundidade, geralmente existe um grande começo marcado por uma clara experiência de Deus, uma transfiguração. Necessitamos de uma experiência iluminadora e transformadora em torno da qual gravite toda a nossa vida. Muitos viveram esta experiência ao participarem de um retiro em uma encruzilhada propícia para grandes decisões em sua existência; outros na própria trama da vida foram subindo de algum modo a montanha simbólica para um encontro com a luz do Espírito Santo.

A 1a Leitura coloca diante de nós o testemunho da resposta de Abraão ao chamado divino. Cada um de nós é também chamado por Deus. O caminho da nossa vocação nem sempre é claro e fácil. Em muitas ocasiões, o simples fato de ser cristão coerente e digno, traz já consigo muitas exigências. Somos tentados a medir "prudentemente" os planos de Deus, a querer fazer contas, a pedir explicações e a contentar-nos com um cristianismo vivido pela metade, feito de algumas práticas rituais, sem grandes compromissos. Nesses momentos, o exemplo de Abraão pode estimular-nos à generosidade na entrega ao plano divino.

São Paulo recorda a Timóteo na 2a  Leitura  que Deus nos chama com um objetivo preciso: "para sermos santos". Como acolhemos esta vocação? Somos prontos e generosos em responder? A quaresma é tempo privilegiado em que Deus se faz ouvir com mais insistência no chamado à santidade. Não podemos ficar indiferentes a este apelo. Nas escrituras, a montanha é o lugar preferido do encontro com o Deus santo. A adoração e a prostração, da qual o cristão de hoje apenas guarda o simbolismo de uma ligeira genuflexão, deve ser expressão do pecador perante Deus:- "Os discípulos ... caíram com o rosto em terra" (Mt 17,6). Tocar a terra com a face é sinal de contrição pelos nossos pecados frente à santidade de Deus. Mas, ao mesmo tempo, quem se acostumar a estar com Cristo na "alta montanha", terá certeza de que só Deus nos pode erguer do pó e da opressão do pecado. Mais importante que a prostração dos discípulos é o gesto de Jesus. Ele os toca e, por sua força, eles se levantam e ficam ao lado de Jesus e em comunhão com ele. Quem está com o mestre começa a discernir todas as coisas. Diz Santo Inácio a respeito: "É próprio de o Bom Espírito (o Espírito Santo) dar ânimo e forças, consolação, quietude" (Exercício 315); "É próprio de Deus dar verdadeira alegria espiritual, tirando toda a tristeza e perturbação que o mau espírito produz." (Exercício 329).

No Evangelho da transfiguração, ao contemplarmos a glória de Cristo, ouvimos o convite do Pai:- "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!" Temos que nos interrogar sobre o significado desta mensagem. O que ela significa para nós nesta quaresma? Ouvir Jesus, assimilar sua Palavra e renovar nossa vida, é uma das atividades próprias da quaresma. Nessa renovação está o início de nossa transfiguração definitiva e, portanto não é preciso esperar o fim dos tempos; somos desde já chamados a viver a vida de Cristo em nós e transmiti-la aos outros para a transformação do mundo!

[“Fontes: “L’ OSSERVATORE ROMANO”, “A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração” e “Palavra de Deus e Nova Evangelização" / adaptação: Dr. Wilson].

quarta-feira, 16 de março de 2011

ORAÇÃO, JEJUM, ESMOLA: o dinamismo de uma vida “ordenada”

Quaresma é tempo favorável para “ordenar a própria vida”  na direção do sonho de Deus para toda a humanidade. Para que este processo de “ordenamento” aconteça, o tempo litúrgico quaresmal nos convi-da a “considerar” as nossas relações vitais: com Deus, com os outros, com o mundo e consigo mesmo.

No Evangelho fala-se das “práticas quaresmais” da oração, esmola e jejum, onde nossas relações são iluminadas e questionadas pelo modo de proceder de Jesus. Quê sentido tem, para nossa cultura, estes três gestos que são propostos para uma vivência fecunda da Quaresma?

Em primeiro lugar, são três gestos que nos humanizam e tornam a vida mais leve e com sentido; eles condensam o sentido da vida cristã. A vida é um abrir-se aos demais (esmola), um manter-se no misté-rio de Deus (oração) e ser capaz de ordenar e dirigir a própria existência (jejum). É preciso criar espaço novo no coração e na mente, para que coisas novas aconteçam. Vividos a partir da identificação com Jesus Cristo, os valores da oração, da esmola e do jejum podem nos aproximar dos pobres e excluídos; mover-nos de compaixão e misericórdia; exercitar-nos na prática do bem e da bondade; acolher o outro com sinceridade; perdoar gratuitamente; cuidar com ternura e ad-miração; mergulhar no mistério de cada coisa; deixar-nos envolver pela graça e permitir que o amor cir-cule em nós e no mundo, gerando vida em abundância. Trata-se de um “modo de proceder” permanente.


Oração: em tempos de tecnologia e de rapidez parece algo sem sentido. No entanto, a oração nos ajuda a buscar sentido em todas as experiências, pois ela nos aproxima da simplicidade e da ternura. Ou seja, a oração torna o coração mais dócil, fazendo-nos mais humanos e, por isso, mais próximos de Deus. A oração é uma mão estendida para o divino; não é dobrar a vontade de Deus a nosso favor; pelo contrário, é colocar-nos em sintonia com Deus, para entendermos o que é melhor para nosso verdadeiro bem. É deixar Deus ser Deus, ou seja, revelar sua paternidade e maternidade com cada um de nós.
Orar é sentir-nos participantes da riqueza divina e de seus dons. É sentir-nos agraciados e plenos de sentido do infinito, tirando-nos da mesmice e do vazio. Orar nos molda o coração de acordo com o coração de Deus, nos ajuda a sermos mais irmãos uns dos outros e reforça a certeza de que somos filhos e filhas amados(as) de Deus.

Jejum: o jejum nos humaniza, nos faz descer do pedestal e nos torna mais sensíveis e solidários; fazer jejum tem sentido quando brota da sensibilidade que evita o desperdício, o consumo desenfreado, o esbanja-mento e o orgulho. Na linguagem inaciana, jejuar é “sair do próprio amor, querer e interesse”, ou seja, viver na simplicidade de quem renuncia a um “EU” enorme por um “mundo diferente”.
Jejuamos para crescer; jejuamos para recordar que as “coisas” não são um fim, mas um meio; jejuamos como forma de olhar ao redor e recordar que a realidade é muito mais ampla que nossa própria situa-ção. Jejuar não é “deixar de comer”. É aceitar de maneira consciente que nossos desejos, nossas neces-sidades, nossos interesses, nossas preocupações não são o centro do mundo.
Por isso jejuar pode ser um convite a ordenar  a mente, a pacificar o coração, a serenar os olhos, a guardar a língua... Purificar a tendência ao imediatismo, ao falso moralismo, puritanismo e perfeccionismo. Implica também “dar um tempo”à tentação de falar dos outros, destruir sua imagem e diminuir seu valor; “dar um tempo” à tentação de ver apenas a aparência e julgar por ela, de ver sujeira em tudo e não ver a beleza em tantas expressões, de ver somente o errado e não acolher os limites e a boa vontade dos demais. Jejuar os olhos para ver o que alegra o coração. Jejuar é cuidar-se, com simplicidade e veneração, e manter viva a alma (= sempre animados). Por lembrar-nos de nossa precariedade, o jejum pode nos tornar sensíveis ao próprio mistério da vida que somos; é colocar em questão a razão de ser da vida. Para quê vivemos?


Esmola: a palavra “esmola” soa mal. Dá idéia de resto, de poder de uns sobre o nada de outros. O termo “esmola” deriva do grego “eleéo”, “ter piedade”, cuja forma imperativa “eleéson” figura no “kyrie” do ato penitencial da celebração eucarística. Antes que possamos ter piedade dos outros é Deus que teve piedade de nós. Precisamente porque brota da piedade divina e se modela sobre ela, a esmola não se reduz a um gesto de ordem apenas material: ela manifesta “um ato que indica o fazer-se companheiro de viagem de quantos se encontram em dificuldade”, participando na sua situação, com ternura.
O sentido está em oferecer algo de si, importante, significativo. Tem a ver com abertura de coração, sensibilidade e olhos abertos. É resultado de uma atenção permanente e ativa, que vai ao encontro do outro, que toma iniciativa, que se comove. É um estímulo a superar o assistencialismo, que mantém as diferenças, sustenta a dependência e não promove a cidadania. Provoca-nos à solidariedade e ao espírito de compaixão, nos move ao serviço, à presença-qualidade, ao voluntariado, à prática do bem e da justiça.

Textos bíblicos:  Lc. 11,1-12  Is. 58,1-12  Lc. 12,22-34

quinta-feira, 10 de março de 2011

LITURGIA / ANO A - I DOMINGO DA QUARESMA – 13 / MARÇO / 2011

1a Leitura - Gn 2,7-9; 3,1-7: Criação e pecado dos primeiros pais. // 2a Leitura - Rm 5,12-19: Onde se multiplicou o pecado, aí superabundou a graça. // Evangelho - Mt 4,1-11: Jesus jejuou durante quarenta dias e foi tentado. //

Depois de ter inaugurado a Quaresma com o rito penitencial das cinzas, a Igreja convida hoje todos os cristãos a entrarem conscientemente neste tempo sagrado. Hoje, 1o domingo da Quaresma, apresenta a Liturgia os dois polos entre os quais se desenvolve a história da salvação: o pecado do homem e a redenção de Cristo. O ser humano logo que foi criado por Deus (1a Leitura), encontrava-se puro e íntegro, sendo gerado à imagem e semelhança do seu Senhor. Vive na inocência, na felicidade e na amizade com o Criador. Deus conta com sua lealdade, chamando-o a dominar a criação e participar da vida divina. Entretanto, sob a influência do mau espírito, o homem em vez de corresponder ao plano divino, pretende desligar-se de Deus e se tornar norma do bem e do mal, senhor absoluto do seu destino. Mas Deus sabe que o homem foi enganado e promete um Salvador que o libertará do erro e do pecado: "Assim como, pela desobediência de um só homem (Adão), foram todos constituídos pecadores, assim também pela obediência de um só, Cristo, todos se tornaram justos" (2a Leitura).

Jesus é o novo Adão que nos comunica a graça e a vida. A soberba dos primeiros pais foi reparada pela obediência de Jesus, pela sua adesão à vontade do Pai, submetendo-se à ignomínia da cruz. A reparação completar-se-á no calvário, mas já se iniciou no deserto quando Cristo repele o tentador (Evangelho). São narradas nesta cena evangélica as tentações de Cristo, após ter passado quarenta dias em oração e penitência (Mt 4,1-11). O episódio leva-nos a pensar nas nossas tentações e nas tentações dos nossos irmãos. Muitas vezes o ser humano torna-se predisposto a fazer o mal pela dúvida e pelas dificuldades. Outras vezes queremos sentir-nos seguros e julgamos que a vida sem preocupações de ordem material nos dá tranqüilidade e segurança. O homem velho, o Adão auto-suficiente e deslumbrado diante da enganosa possibilidade de realizar-se sem Deus, repete-se na história humana desde o princípio e seu comportamento egocêntrico resulta em desamor. O homem novo, o Cristo obediente e perseverante na sua fidelidade ao Pai, resgatou para a humanidade sua autêntica liberdade, o caminho para a vida verdadeira e o amor fraterno. O desapego das coisas materiais e de si mesmo, encontram um momento propício para seu aprofundamento no tempo da Quaresma, com o objetivo de firmar nosso ser espiritual em Cristo.

Jesus vem dizer-nos que, para além do pão e dos bens materiais precisamos, sobretudo estar apoiados em Deus e que existe apenas um Senhor. Cada cristão deve se perguntar se a sua tentação não é exatamente a terceira citada no Evangelho de hoje, aquela de estar adorando ao tentador despercebidamente, aceitando suas promessas do ter, do poder e do prazer. Em cada vida, ele tem muitas faces. O prêmio prometido pelo inimigo é sempre o mesmo encantamento: ‘você reinará... ’, mas sem saber que é o próprio inimigo que o estará governando! O demônio tentou Jesus aproveitando-se de sua aparente debilidade após longo período de jejum. Devemos estar especialmente vigilantes nos momentos de desgaste excessivo ou cansaço, que tornam mais evidentes nossas fragilidades. Mas Cristo está sempre ao nosso lado, em cada tentação e nos diz afetuosamente: "No mundo tereis tribulações, mas tende coragem, eu venci o mundo!" (Jo 16,33).

Precisamos de armas para vencer esta batalha espiritual: a oração e a meditação da Palavra, os sacramentos da reconciliação e da eucaristia, um espírito de serviço com humildade de coração e uma ligação terna e filial à Imaculada, que também zela para que tenhamos uma alma pura para acolher dignamente o Espirito Santo em nós!

[Fontes: "L'OSSERVATORE ROMANO”, "Falar com Deus", "Palavra de Deus e Nova Evangelização" e "Intimidade Divina" / adaptação: Dr. Wilson].

quarta-feira, 9 de março de 2011

CF 2011 E QUARESMA

"Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.  Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos." (Rm 8, 18-25)
São Paulo nesse trecho de sua carta aos Romanos quer nos mostrar a importância de perceber na História do mundo que não há sofrimento que não possa ser superado pela Graça que vem de Deus todos os dias de nossas vidas. Nós, seres humanos e toda a natureza ainda vivemos na expectativa da segunda vinda de Jesus aqui na Terra, para redimir todos nós. Mas como estamos nos preparando? Como estamos cuidando de toda a obra criada por Deus?
Como criaturas de Deus, somos cópia da perfeição, mas não somos perfeitos, somos perecíveis e fazemos muito ao nosso redor perecer também. Somos livres e, por isso, somos capazes de escolher entre a vida e a morte. Muitas vezes nossas decisões podem ser algo que gera a morte, como o descuido com a natureza, com a vida humana, etc.
Por isso toda criação ainda sofre e geme como em dores de parto. Porque ainda não conseguimos atingir o que é perfeito, somente sofremos, com nossas ações imperfeitas. Mas o importante é ter a certeza de que Aquele que nos criou não desiste de nós, por isso é preciso ter esperança de que essas dores acabarão, pois, mesmo que não o vemos agora com os nossos olhos, sabemos que ele nos dará a Graça da Vida Eterna nos tempo certo. Desse modo “na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos”.
Aguardemos, caminhando de esperança em esperança, mas construindo no já de nossa história um mondo novo, com menos dor e sofrimento.
Vamos aproveitar o tempo oportuno da Quaresma para fazer um retiro dentro de nós mesmos e rever nossa caminhada em relação a vida no planeta e, principalmente, em relação a nossa vida.
Tenham todos uma Santa Quaresma...

Pe. Jonas Barbosa

quinta-feira, 3 de março de 2011

LITURGIA / ANO A – 09º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 06 / MARÇO / 2011

* Fazer a vontade do Pai! *

1a Leitura - Dt 11,18.26-28.32: Eis que ponho diante de vós benção e maldição.// 2a Leitura - Rm 3,21-25.28: O homem é justificado pela fé sem a prática da lei.// Evangelho – Mt 7, 21-27: A casa construída sobre a rocha e a casa construída sobre a areia.//
No Antigo Testamento toda a perfeição do povo de Israel estava contida na lei judaica - "Eis que ponho diante de vós benção e maldição; a benção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus…; a maldição, se não obedecerdes" (1a Leitura). Deus abençoava ou amaldiçoava o homem, conforme sua obediência ou desobediência à Lei judaica. O Novo Testamento instaura uma nova ordem: Deus abençoa não pela observância da Lei judaica, mas pela fé em Cristo - "Com efeito, julgamos que o homem é justificado pela fé, sem a prática da lei judaica" (2a Leitura). É São Paulo o grande pregador deste princípio: "Agora sem depender do regime da lei, a justiça de Deus se manifestou… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que têm a fé" (Rm 3,21-22). Cumpre, porém compreender que a fé consiste não somente na aceitação da Palavra de Deus, mas também em consentir a manifestação de Cristo na profundidade de nosso ser, colocando ao seu dispor nossa inteligência e vontade, pensamentos e obras. Justamente isto nos ensina Jesus quando declara: "Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus, mas quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus" (Evangelho).
O próprio Cristo professa: "Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (Jo 6,38). Exatamente hoje a liturgia fala abertamente da inevitável obediência à vontade do Pai (1a leitura e Evangelho). Não é simpática a palavra "obediência" às pessoas de nosso tempo, porque está ligada a uma imagem de dependência servil, de submissão alienante. Não apenas os adolescentes que se negam a aceitar de boa vontade a sujeição de normas impostas ou a atitudes autoritárias dos que mandam. A situação se torna mais evidente quando penetramos no terreno religioso. É provável que os próprios cristãos sintam-se incomodados diante de termo obediência e não raro que alguns procurem subestimar essa palavra. Entretanto, a obediência é um assunto que não pode ser relegado porque constitui tema bíblico fundamental, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Cristo centraliza sua atuação no mundo como alguém que "humilhou-se se fazendo obediente até a morte, e morte de cruz" (Fl 2,8). Se a obediência é um tema imprescindível para o cristão, de que obediência se trata? Na história da salvação, a obediência sempre esteve ligada a uma aliança de amor. Na iniciativa de um amor infalível, Deus é sempre quem conta com uma livre resposta de adesão do coração humano para a realização de seu plano no mundo. Trata-se, portanto de uma obediência na fé, que parte da experiência da imensa misericórdia e amor divinos, e não da submissão a uma mentalidade impositiva que poderia resultar em perda do caráter criativo e dinâmico do cristão. O empenho de procurar em tudo a vontade de Deus dá-nos uma particular fortaleza contra as dificuldades e tribulações que tenhamos que passar: doenças, calúnias, dificuldades familiares, sociais e econômicas.
No Evangelho de hoje, Cristo fala-nos de duas casas que tinham sido construídas ao mesmo tempo e que se pareciam igualmente sólidas. Mas quando chegaram as chuvas, as enchentes e os ventos fortes, ficou manifesta a grande diferença entre elas: uma manteve-se firme porque tinha sido construída sobre a rocha que é o Cristo; a outra ruiu porque fora construída sobre a areia. Não nos separemos em nenhum momento de Jesus para que, cumprindo o que Ele nos ensina para o nosso bem, guiados por Maria, possamos chegar até o final da caminhada onde O contemplaremos face a face!
[Fontes: “Falar com Deus”, “A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração”, "Palavra de Deus e Nova Evangelização" e “Intimidade Divina” / adaptação: Dr. Wilson]