sexta-feira, 29 de julho de 2011

LITURGIA / ANO A – 18º DOMINGO DO TEMPO COMUM - 31 / JUL / 2011

* A Providência Divina *
1aLeitura - Is 55,1-3: Apressai-vos e comei!// 2a Leitura - Rm 8, 35.37-39: Ninguém poderá nos separar do amor de Cristo.// Evangelho - Mt 14,13-21: Todos comeram e ficaram satisfeitos.//

A liturgia da Palavra deste domingo fala sobre o tema da Providência Divina que se inclina com amor sobre as necessidades do homem. Ponto de partida é o convite divino, por meio do profeta Isaías, aos hebreus exilados na Babilônia (1ª Leitura) para não retardarem sua volta à pátria porque Deus liberalmente proverá suas necessidades: "Vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite sem nenhuma paga". Além das necessidades materiais dos homens, Deus proverá também as espirituais: "Ouvi-me e tereis vida; farei convosco um pacto eterno, manterei fielmente as graças prometidas a David".

Deus estabelecerá uma aliança eterna com seu povo por meio de seu Filho Jesus, o messias. Nele, portador do reino dos céus para uma humanidade que peregrina no deserto, o amor de Deus quer saciar todas as necessidades humanas. No Evangelho, Cristo realiza as promessas anunciadas na 1ª Leitura, respondendo aos apelos da multidão que o seguia. Os discípulos alertam Jesus sobre o avançado da hora e para a solidão do lugar, pedindo-lhe que despeça o povo para que tivessem tempo de voltar à cidade e comprarem o necessário para a refeição da noite. Era uma multidão que se encontrava em situação real de pobreza.

Refletindo como se encontra este cenário no mundo atual vemos que o quadro não melhorou e, pelo contrário, continua grande em termos absolutos e relativos. Estima-se na atualidade que aproximadamente dois terços da humanidade esteja subalimentada, o que representa o número impressionante de quatro bilhões de pessoas. As carências da humanidade incluem além da fome alimentar, fome de trabalho e de moradia, de dignidade pessoal e de cultura, de estima e afeto, de paz e liberdade, de espírito e religião. Fome total, fome de absoluto e, numa palavra, fome de Deus.

A sociedade moderna apresenta novos estados de pobreza: anciãos solitários, enfermos terminais, crianças sem família, mães abandonadas, delinqüentes, drogados, alcoolistas e tantos outros! Frente à sugestão dos discípulos para despedir a multidão, poderia a pregação de Cristo terminar nesta solução: ‘Despede-os?’ A resposta de Jesus desconcerta os apóstolos: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer!’ (Mt 14,16). Deixemos que o eco dessas palavras continue ressoando por muito tempo em nossos ouvidos interiores. O amor ativo de Deus manifesta-se através de mãos humanas.

Os pães não caem do céu. Apesar dos discípulos reconhecerem sua impotência para alimentar ‘cinco mil homens sem contar mulheres e crianças’, são eles que trazem os pães e os peixes e os colocam nas mãos de Jesus, que multiplica em muitas e muitas vezes a participação dos operários da messe. O ápice do relato é atingido no v.19 onde Jesus ordena à multidão que se sente na relva e tomando os cinco pães e dois peixes ‘ergueu os olhos aos céus, pronunciou a benção e partindo deu aos seus discípulos’.

O paralelismo com a fórmula empregada na última ceia e na celebração eucarística é bastante claro. ‘Trabalhai, não somente pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna que o Filho do homem vos dará’ (Jo 6,26s). Quem segue decididamente a Cristo, encontra nele tudo o que necessita para a vida terrena e para a vida eterna. Mas cumpre segui-lo com fé inabalável, apoiada no anúncio vibrante do Apóstolo: Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?’ (2ª Leitura). Nem as adversidades da vida pessoal, nem os trabalhos enfrentados no apostolado, poderão arrancar o discípulo de seu Mestre, porque está convicto que o amor de Cristo, com a mediação de Maria, lhe dará forças para superar qualquer dificuldade.

[Fontes:’ L' ÓSSERVATORE  ROMANO’, ‘Nas Fontes da Palavra’, ‘Palavra de Deus e Nova Evangelização’,’Intimidade Divina e ‘A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração’ / adaptação: Dr. Wilson]

terça-feira, 19 de julho de 2011

LITURGIA / ANO A – 17º DOMINGO DO TEMPO COMUM - 24 / JUL / 2011

* A sabedoria do cristão *
1a Leitura - 1Rs 3,5.7-12: Pediste-me a sabedoria.// 2a Leitura - Rm 8,28-30: Ele nos predestinou para sermos conformes à imagem de seu Filho.// Evangelho - Mt 13,44-52: "Vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola".//

A Palavra de Deus, que a Igreja hoje proclama, coloca diante de nós o problema vital e sempre agudo sobre nossas decisões frente as opções que vida se nos apresenta. Assim, a 1ª Leitura relata uma manifestação de Deus em sonho ao jovem rei Salomão no início de seu reinado (972-931 a.C.), dizendo-lhe: "Peça-me o que quiser".

Salomão, dando preferência à sabedoria do que às riquezas ou mesmo a uma vida longa, pede somente inteligência para governar o povo e um coração compreensivo capaz de discernir entre o bem e o mal, o que muito agradou a Deus. Podemos perguntar-nos quais são as nossas escolhas, que critérios orientam as nossas aspirações? Que pedidos fazemos na nossa oração? Este sábio pedido de Salomão há de orientar-nos que mais vale a verdadeira sabedoria do que todos os tesouros da terra, e só Deus a pode dar. No Antigo Testamento encontramos duas figuras, "tesouro" e "pérola", aplicadas à sabedoria especialmente no livro dos Provérbios e que também são referidas por Jesus no Evangelho de hoje por meio das parábolas do ‘tesouro escondido’ (Mt 13,44), da ‘pérola preciosa’ (Mt 13,45-46) e da ‘rede lançada ao mar’ (Mt 13, 47-48).

A imagem de um tesouro escondido correspondia ao costume palestinense de enterrar coisas preciosas, especialmente em tempo de guerra. O achado de um tesouro escondido, uma pérola preciosa ou de uma rede cheia de peixes, é acontecimento que independe do cálculo direto. Não constitui somente fruto de nossa busca, mas depende também do imprevisível. Ninguém podia prever, mas havia chegado o tempo pré-determinado unicamente por Deus para que, com o nascimento de Cristo se manifestasse o Reino de Deus em meio a nós. Não é o homem que introduziu este novo tempo, mas exclusivamente a graça do Deus Salvador. Em Cristo, apresenta-se aos homens o inaudito achado: Deus e seu Reino. Chegou a era definitiva da história de Deus com os homens. É a era da sua divina entrega, definitiva e irrevogável. É a ‘plenitude dos tempos’ (Ef 1,10) que está realmente presente em Jesus, na sua maneira de agir e de ser. Aparentemente o tesouro é de graça. Entretanto, para adquiri-lo, é necessário vender tudo, abandonar tudo.

De fato a graça, o Reino de Deus nos é dado em total e absoluta gratuidade, mas só é possível receber tamanha bondade pela ilimitada generosidade de nossa entrega. A última parte do que possuímos só a venderemos e entregaremos na morte, embora esteja antecipada tantas vezes no sofrimento, no silêncio e na fidelidade da vida. "Compreendestes tudo isto?", perguntava Jesus aos discípulos. O cristão de fato é aquele que percebeu o tesouro e, correndo está se libertando de tudo para conquistar somente a nova e única riqueza. Isto não significa que todo cristão deva fugir do mundo, tornando-se eremita. Mas significa que, em tudo e contra tudo, o cristão pertence mais realmente a este tesouro do que às labutas e às alegrias da vida mortal. Se estivermos tentados a responder juntamente com os discípulos: "Sim Senhor, entendemos", então deveremos responder à pergunta: que significa o tesouro para nós? Podemos tornar-nos refratários a essa conversão, embora "aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conforme a imagem de seu Filho" (2ª Leitura).

Somos assim chamados pelo Pai para a sermos seus filhos divinos, atribuindo esta missão da nossa adoção filial à Maria, nossa Mãe espiritual. À semelhança da vida humana que precisa do ventre da mãe para se desenvolver, também o germe de vida divina infundido pelo Espírito Santo necessita do "ventre materno-espiritual" de Maria para crescer em conformidade com a imagem de Cristo, de acordo com o eterno desígnio do Pai.

[Fontes: ‘Nas Fontes da Palavra’, ‘L'Ósservatore Romano’, ‘Palavra de Deus e Nova Evangelização’, ‘Intimidade Divina’ e ‘A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração’ / adaptação: Dr. Wilson]

sexta-feira, 15 de julho de 2011

LITURGIA / ANO A – 16º DOMINGO DO TEMPO COMUM - 17/ JUL/ 2011

* A Paciência de Deus *
1aLeitura - Sb 12,13.16-19: Deus concede o perdão aos pecadores.// 2a Leitura - Rm 8,26-27: O Espírito Santo vem em socorro da nossa fraqueza.// Evangelho - Mt 13,24-43: Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem.//


Apresenta-se em destaque na liturgia da Palavra deste domingo a paciência de Deus que, tendo em suas mãos todo o poder, se mostra tolerante com sua criatura, homem fraco e pecador. Isso contrasta com a nossa habitual intolerância, nossos juízos negativos sobre os outros e nossa impaciência que nos leva ao desânimo. Assim, a 1ª Leitura, tirada do livro da Sabedoria apresenta-nos uma reflexão do sábio sobre a atitude de Deus em relação às suas criaturas. Apesar de ser o Senhor todo-poderoso, julga com brandura e governa com indulgência, sabe esperar a volta daquele que se perdeu.

Como resposta, no Salmo de Meditação da missa, a comunidade reconhecida exalta a bondade e a benevolência de Deus, multiplicando expressões para significar a mesma realidade: clemente, bom, cheio de misericórdia, atento as súplicas, compassivo, lento para a ira, rico em piedade! O Evangelho apresenta-nos três parábolas: a do joio e do trigo, a do grão de mostarda e a do fermento. A primeira é que aparece mais desenvolvida e até enriquecida com o comentário explicativo de Jesus. O trigo e o joio, os bons com os maus, os justos com os pecadores. Segundo o plano de Deus, é nesta perspectiva que se deve desenrolar a vida do homem. Assim, Deus respeita a liberdade humana, torna possíveis as nossas opções, dá tempo a que o pecador se arrependa e se regenere. Diante da nossa impaciência, que às vezes é também zelo vingativo ou sinal de fraqueza e medo, a paciência de Deus manifesta sua grandeza e poder. Em vez de pedir castigos exemplares para os que erram, o cristão imitará a longanimidade do Senhor, que acolhe os pecadores e vai ao seu encontro proporcionando-lhes ocasiões para sua conversão.

Recordamos aquela cena evangélica na qual os impetuosos "filhos do trovão", Tiago e João, diante da negativa de uma aldeia na Samaria em receber a Cristo e a seus discípulos, dizem ao Senhor: "Queres que mandemos que desça fogo do céu para destruí-los?" E Jesus voltou-se para eles repreendendo-os, dizendo: "O Filho do Homem não veio para perder os homens, mas sim para salvá-los" (Lc 9,54-55). A lição de compreensão e tolerância que se tira da liturgia de hoje não é só para os que governam os outros. É para todos, porque podemos ser intolerantes com as faltas alheias, mas muito tolerantes em nossas autojustificações e muito fáceis de nos desculparmos. Com o mesmo critério com que julgamos os outros, seremos julgados. Temos olho de lince para ver o cisco no olho do outro e somos míopes para ver a trave no nosso (Mt 7,2-3). Como rezar então o Pai-Nosso pedindo perdão de nossas falhas se não tolerarmos as falhas do irmão? O bem e o mal não estão só fora de nós, mas dentro do nosso próprio coração. Ninguém é tão bom que não tenha nada de joio; ninguém pode ter a presunção de ser trigo totalmente limpo.

 E Jesus disse: "Somente Deus é bom" (Mt 19,17). A nossa própria história pessoal mostra-nos momentos em que erramos e nos comportamos como o joio. Cumpre recorrer à oração para que Deus impeça a propagação do mal e defenda seus filhos do contágio por meio da ação do Espírito Santo, que intercede em favor dos santos (2ª Leitura), daqueles que serão trigo na ocasião da colheita. Uns e outros, até o momento da ‘ceifa’, imagem clássica do juízo de Deus, podemos ser justos e pecadores. Perante aqueles que vivem como o joio, Deus espera uma atitude de acolhimento e, sem haver uma conivência com o erro, ajudar sempre na busca de um reto caminho, agindo com o máximo possível de espírito de misericórdia e de verdade.

[Fontes: ‘L' ÓSSERVATORE ROMANO’, ‘Nas Fontes da Palavra’ e ‘Intimidade Divina’ / adaptação: Dr. Wilson]

quinta-feira, 7 de julho de 2011

LITURGIA / ANO A – 15º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 10 / JUL / 2011

* A Eficácia da Palavra de Deus *
1a Leitura - Is 55,10-11: A chuva faz a terra germinar. // 2a Leitura - Rm 8,18-23: A criação espera ser libertada e participar da glória dos filhos de Deus. // Evangelho - Mt 13,1-23: O semeador saiu para semear. //

O argumento central da liturgia de hoje é o poder e a eficácia da palavra de Deus: "A palavra que sai da minha boca não voltará sem resultado, sem ter feito o que eu quero" (1ª Leitura). Este pequeno trecho (Is 55,10-11) tece um elogio à fecundidade da Palavra de Deus, partindo da imagem da água da chuva que irriga a terra e produz seu efeito. Assim, anunciar a Palavra de Deus nunca será inútil, mesmo que os resultados não se captem imediatamente porque sua eficácia não depende tanto da boca de quem a anuncia, mas sim de sua própria força interna. O Evangelho, com a parábola do semeador, dá continuidade a este tema.

 
A narrativa de Mateus diz que Jesus sentou-se à beira do lago e se aproximaram tantas pessoas para ouvi-lo que foi necessário subir em uma barca para a multidão escutá-lo da praia. O mestre começou então a ensinar-lhes: "Saiu o semeador a semear, e as sementes caíram em terrenos muito diversos". Na Galiléia a parábola reproduz a situação agrícola daquelas paragens em que, o terreno acidentado e cheio de colinas, somente permitia destinar-se ao plantio de pequenas glebas de terra, em vales e encostas. O semeador espalha suas sementes aos quatro ventos, mas só uma parte atinge a terra fértil e o restante cai no próprio caminho de terra batida, em solo pedregoso ou em meio aos espinhos. O caminho de terra pisada são os corações duros, como esses velhos caminhos continuamente transitados, almas sem cultivo algum que nunca foram aradas, acostumadas a viver de costas para Deus. No batismo a semente fora lançada pela primeira vez e desde então quantas vezes não foi dada a graça abundante? Mas a semente da palavra divina caída nesta terra batida é logo comida pelos pássaros ou calcada pelos transeuntes, isto é, facilmente arrancada pelo inimigo que "não é preguiçoso, antes tem os olhos sempre abertos e está sempre preparado para saltar e arrebatar o dom que vós não usais" [Cardeal J. Newmann].  

O terreno pedregoso, coberto somente por uma fina camada de terra, representa as almas superficiais com pouca profundidade interior, inconstantes e incapazes de perseverar. Têm boas disposições e até recebem a graça divina com alegria, mas quando as dificuldades chegam, retrocedem, não sendo capazes de empenhar-se em cumprir propósitos que um dia fizeram e morrem sem dar fruto. Há alguns que depois de vencerem os primeiros inimigos da vida interior, esgotam-se suas energias, falta-lhes o ânimo e deixam de lutar quando estavam "a dois passos da fonte de água viva capaz de saciar para sempre", como dissera Jesus à samaritana (Santa Tereza - Caminho da Perfeição). Os espinhos que sufocam a semente divina são as preocupações deste mundo, a sedução das riquezas e a ânsia pela influência ou de poder, que impedem a união com Deus. "Por isso no Evangelho, Cristo chamou-os de espinhos porque além de sufocarem a Palavra Divina, poderiam permitir que quem os manuseasse ficasse ferido de algum pecado" (São João da Cruz).

Deus espera que sejamos um terreno fértil, rico nas virtudes da e humildade como Maria, para acolhermos a semente do Espírito Santo que nos há de libertar da escravidão do pecado e assim participarmos da liberdade dos filhos de Deus (2ª Leitura). Vemos que mesmo sendo a terra boa existem diferenças na sua excelência, porque de algumas terras se obtém trinta frutos por semente, de outras sessenta e das melhores até cem frutos por semente. Não podemos conformar-nos com o que fazemos no serviço a Deus. "O Senhor nos dá muito, tem direito à nossa mais plena correspondência e é preciso caminhar ao seu passo. Não fiquemos para trás!"
[Fontes: L 'Osservatore Romano, Palavra de Deus e Nova Evangelização, Intimidade Divina e Falar com Deus: adaptação / Dr. Wilson]