sexta-feira, 29 de abril de 2011

LITURGIA / ANO A - 2o DOMINGO DO TEMPO PASCAL - 01 / MAIO / 2011

* Renascer para uma vida nova! *
1a Leitura - At 2,42-47: Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum.// 2a Leitura1 Pd 1,3-9: Pela ressurreição de Cristo ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva.// Evangelho - Jo 20,19-31: Oito dias depois, Jesus entrou.//

A festa da Páscoa é tão grande e significativa que não pode ficar reduzida ao espaço de um dia ou uma semana, tendo na verdade sua duração estendida por um período de cinqüenta dias, como se tratasse de uma só festa, o chamado Tempo Pascal.
A 1ª Leitura da liturgia deste domingo apresenta-nos o célebre trecho dos Atos dos Apóstolos que sintetiza o estilo de vida dos primeiros cristãos: comunidade de fé, unida em oração e que tudo colocava em comum. Sempre que ouvimos esta passagem, questionamos porque com tanta freqüência nossas comunidades andam tão longe deste ideal vivido pelos primeiros irmãos. Contudo, mais do que perder-nos em lamentações estéreis, precisamos ver como realizar este ideal em nível de família, de grupo, de paróquia, buscando sinceridade na oração e maior ajuda mútua entre os irmãos. Não admira que tal estilo de vida tenha atraído tantos novos membros à Igreja nascente e entrevemos como esta leitura representa um desafio às nossas comunidades. A 2ª Leitura é tirada da 1ª carta de São Pedro onde o apóstolo exalta a bondade do Pai pela ressurreição de Cristo dentre os mortos, fazendo-nos “nascer de novo para uma esperança viva e uma herança incorruptível”. São Pedro lembra, entretanto, que “a fé será provada como sendo verdadeira e mais preciosa que o ouro perecível, para alcançar louvor, honra e glória no dia da manifestação de Jesus Cristo”.
O Evangelho de hoje narra a aparição de Jesus aos apóstolos, reunidos no cenáculo, quando lhes é anunciada sua missão: "Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio". Jesus então sopra sobre eles o Espírito Santo, conferindo-lhes o poder de perdoar os pecados e que é transmitido ao longo de todos os tempos, por meio do clero, aos sacerdotes de hoje da nossa Igreja. É nesta efusão do Espírito de Deus que se dá a instituição do sacramento da Reconciliação. Aparece assim o Espírito Santo como primeiro dom de Cristo ressuscitado à sua Igreja, no momento em que a constitui e a envia para prolongar sua missão no mundo. Os discípulos cheios de grande alegria, após esta aparição de Jesus ressuscitado, encontram Tomé que não havia estado com eles e dizem: "Vimos o Senhor!" Mas sabemos que Tomé não dá sinal de crédito a estas palavras e os apóstolos então insistem com muita certeza, repetindo: "Vimos o Senhor!" As dúvidas de Tomé vêm a servir para confirmar a fé dos que mais tarde viriam a crer em Jesus. Diz São Gregório que não foi por acaso, e sim por uma disposição divina que ocorreu a ausência de Tomé. Quando este discípulo que duvidava, tocou os sinais das chagas de seu mestre, curou também a incredulidade de muitos, permitindo se tornarem ainda mais claras e verdadeiras as provas da ressurreição. Para muitos homens e mulheres é como se Cristo estivesse morto, porque pouco Ele significa para eles e quase não conta nas suas vidas. A nossa fé em Jesus ressuscitado anima-nos a ir ao encontro dessas pessoas e a dizer-lhes com o nosso comportamento e de diversas maneiras que Cristo vive, que a Ele estamos unidos pela fé, e que Ele dá sentido à nossa vida. Desta maneira, contribuímos pessoalmente para a edificação da Igreja, como aqueles primeiros cristãos de que falam os Atos dos Apóstolos: "Cada vez mais aumentava o número de homens e mulheres que acreditavam no Senhor". Meditemos o Evangelho da missa de hoje. Fixemos de novo o olhar no Mestre. Talvez também nós escutemos dele a mesma censura dirigida a Tomé: "Ponha o seu dedo aqui e veja as minhas mãos. Não seja incrédulo, mas tenha fé!" A nossa resposta deverá ser também como a de Tomé, um ato de adoração: "Meu Senhor, meu Deus". Se a nossa fé for firme, também haverá muitos que se apoiarão nela. Somente à luz da fé, com a meditação da Palavra de Deus e a participação nos sacramentos, é possível buscar a vontade do Pai em todos os acontecimentos do quotidiano e vislumbrar Cristo em cada ser humano. Peçamos à Maria que nos ajude a manifestar com a nossa conduta e com as nossas palavras que Cristo vive! [Fontes: “L' Osservatore Romano”, “Intimidade Divina”, “Falar com Deus” e “Nas Fontes da Palavra” / adaptação: Dr Wilson]

Salve o Beato João Paulo II!

Mensagem do 1º de Maio

“Veja como vive a Classe Trabalhadora! Eles trabalham para quê?”

          Acabamos de celebrar a Páscoa da Ressurreição de Jesus o Filho de Deus, o carpinteiro da Galileia. Fizemos memória da grande caminhada de libertação do povo de Deus, retomada na vida, na prática e na mensagem deste mesmo Jesus que, em seu tempo, assumiu a condição de trabalhador, sendo filho de um carpinteiro (Mc 6,1-6). Escolheu seus discípulos do meio da classe trabalhadora e, a partir deles anunciou a Boa Nova do Reino de Deus (Lc 4,16-30; Mt 11,2-6).
          Como seguidoras e seguidores de Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro José, fazemos memória, neste 1º de maio, de todas as lutas da classe trabalhadora, celebrando os 125 anos dos acontecimentos em Chicago, que deram origem ao dia dos trabalhadores e trabalhadoras. Celebrar o 1º de maio, como memória das lutas, é condição para que a classe trabalhadora possa estar sempre atenta na defesa de seus direitos e buscando oferecer as linhas mestras e os alicerces de uma sociedade respeitadora da comunidade de vida: pessoas humanas e de todos os seres presentes na natureza.
          Inicialmente, à luz do tema do 1º de maio - “Vejam como vive a classe trabalhadora! Eles trabalham para quê?” - queremos apontar alguns obstáculos presentes na vida dos trabalhadores e trabalhadoras que os impedem de ter uma vida digna.
          Nas últimas décadas, houve mudanças profundas no mundo de trabalho, com um ritmo cada vez mais acelerado e jornadas longas, gerando intensificação do trabalho e, consequentemente, pouca convivência familiar e baixa sociabilidade. Os trabalhadores e trabalhadoras não têm tempo para sua organização nos bairros, nas fábricas, como também na política, prejudicando sua participação cidadã e dificultando a sua organização como classe e na defesa de seus direitos e deveres..
          A reestruturação do mundo do trabalho tem trazido maior instabilidade e maior rotatividade, dificultando a permanência nos postos de trabalho, tendo no processo de terceirização e precarização do trabalho um agravante que acaba gerando péssimas condições de trabalho e de salário. As recentes lutas dos trabalhadores e trabalhadoras das grandes obras relacionadas com a construção das hidrelétricas, de modo especial em Jirau, no Rio Madeira, Rondônia, como também nas obras relacionadas com a construção dos complexos portuários de Pecém no Ceará e Suape em Pernambuco, demonstram o desrespeito com a classe trabalhadora no Brasil.
          Em Campinas, como também em várias cidades da região metropolitana, há denúncias de trabalho escravo e péssimas condições de alojamento e alimentação para os que trabalham na construção civil. Também presenciamos um processo de privatização da saúde e da educação e demais serviços públicos, dificultando ainda mais o respeito aos direitos universais anunciados em nossa Constituição.
          O salário mínimo, hoje de R$ 545,00, não atende as exigências da Constituição no seu Capítulo II, artigo 7º, devendo ser de R$ 2.149,76, de acordo com o DIEESE.
          Sabemos também que os jovens são os mais prejudicados no atual sistema de organização do trabalho, pois sofrem o maior índice de desemprego e continuam com dificuldade de entrarem no mercado de trabalho, sobretudo no que se refere ao primeiro emprego.
          Os trabalhadores e trabalhadoras enfrentam um sistema capitalista que destrói a natureza, como tem sido denunciado pela Campanha da Fraternidade de 2011: “Fraternidade e a vida no Planeta”.
          Diante deste quadro atual que aponta sérios obstáculos a uma vida digna para os que vivem do trabalho, queremos também indicar a contribuição que os trabalhadores e trabalhadoras podem dar na conquista de uma sociedade plenamente democrática do ponto de vista econômico, político, social e cultura e ecológico.
          É importante que os trabalhadores e trabalhadoras fortaleçam sua organização de base, sobretudo reforçando os sindicatos e definindo o papel das centrais sindicais. Os enfrentamentos nos canteiros de obras das hidrelétricas, das refinarias, dos complexos portuários e da construção civil em geral, estão apontando para a necessidade de um novo patamar de organização dos trabalhadores. Esta perspectiva já estava presente na afirmação de João XXIII apontando a participação dos trabalhadores como um dos grandes fenômenos da nossa época, um verdadeiro sinal dos tempos: “Primeiro, a gradual ascensão econômico-social das classes trabalhadoras. Partindo da reivindicação de seus direitos, especialmente de natureza econômico-social, avançaram em seguida os trabalhadores às reivindicações políticas e, finalmente, se empenham na conquista de bens culturais e morais. Hoje, em toda parte, os trabalhadores exigem ardorosamente não serem tratados à maneira de objetos, sem entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas em todos os setores da vida social, tanto no econômico-social como no da política e da cultura” (Pacem in Terris, 40 - 1963).
          Para fugir à alienação do trabalho e viver a subjetividade do trabalho, através de sua organização como classe, os trabalhadores, como produtores da riqueza de uma nação, são chamados a contribuir para um novo modo de produção que respeite a comunidade de vida, buscando indicar pistas para a resposta das questões: “Para quem produzir? O que produzir? E como produzir?”. Desta forma, também poderão influenciar na busca de energia sustentável, pois o acidente com a usina nuclear de Fukushima, no Japão, que repete, depois de 25 anos, o acidente de Chernobyl, na Ucrânia, nos alerta para o investimento em energias limpas, como a energia solar e a energia eólica.
          Como o Servo Sofredor, figura presente nas celebrações da Semana Santa, os trabalhadores e trabalhadoras tem oferecido sua vida em benefício do bem comum, mas muitas vezes, como o próprio Jesus de Nazaré, são perseguidos e prejudicados pelo atual sistema capitalista neoliberal. Sofrem no trabalho, mas produzem vida para toda a sociedade. Está no tempo de construir uma sociedade justa e fraterna, onde a partilha dos bens possa ser o grande sinal de que estamos antecipando a presença do Reino de Deus no mundo.
          Animados por esta esperança é que nós cristãos e cristãs, como também todas as pessoas de boa vontade, continuamos a acreditar na caminhada dos homens e mulheres de boa vontade na busca de um outro mundo possível e urgente.


Dom Bruno Gamberini
Arcebispo Metropolitano de Campinas

sábado, 23 de abril de 2011

LITURGIA /ANO A - DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO – 24/04/2011

1a Leitura - At 10, 34.37-43: Comemos e bebemos com Ele depois que ressuscitou.// 2a Leitura – Cl 3,1-4: Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo.// Evangelho - Jo 20,1-9: Ele devia ressuscitar dos mortos. //

 "O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia. A ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos" (entrada da missa). A ressurreição de Cristo é uma realidade central da nossa fé católica e a importância deste milagre é tão grande que os apóstolos são, antes de tudo, testemunhas da ressurreição. Este é o núcleo de toda a pregação, e isto é o que depois de vinte e um séculos, é anunciado ao mundo: Cristo vive!
A ressurreição é a prova suprema da divindade de Cristo. Depois de ressuscitar, Jesus foi visto pelos discípulos que puderam certificar-se de que era Ele mesmo: puderam falar com Ele, viram-no comer (1ª Leitura), verificaram as marcas dos pregos e da lança no seu corpo. São Pedro pronuncia uma eloqüente exortação sobre a ressurreição de Jesus na 2ª Leitura: "Irmãos, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus". A ressurreição de Cristo é uma forte chamada ao apostolado, isto é, a que sejamos luz a fim de levarmos a luz aos outros. A nossa missão de cristãos é proclamar essa realidade de Cristo ressuscitado, anunciá-la com a nossa palavra e as nossas obras a todos os ambientes em que as tarefas humanas se desenvolvem: nas escolas, nas fábricas, nas atividades rurais, nos laboratórios, nos hospitais, nos presídios... A ressurreição de Jesus é o milagre do começo de uma vida nova a partir precisamente da morte. Mas esta nova existência não é o retorno à vida de um cadáver que se reanima, como aconteceu com os milagres em que Cristo faz ressurgir a Lázaro (Jo 11); ao filho da viúva de Naim (Lc 7) e à filha de Jairo (Mc 5). Nestes casos o que ocorreu foi uma reanimação e uma continuidade no ritmo biológico previamente existente, a mesma natureza física e corporal de antes. Não é este o caso de Jesus que ressuscitou para nunca mais morrer, mas para viver por toda a eternidade (Rm 6,9; Ap 1,18). A sua existência após a ressurreição não seguiu a vida natural de antes, mas outra totalmente nova e transformada como o demonstra as aparições posteriores de Cristo ressuscitado. Para os apóstolos, o ressuscitado era Jesus de Nazaré, a mesma pessoa que conheceram antes em perfeita continuidade pessoal e física. Mas seu corpo, embora ainda sendo o mesmo, está inegavelmente transformado. Jesus ressuscitado tinha um novo modo de existência, uma vida nova, para a qual eles não tinham, e nós também não temos palavra que possa definir, pois se trata de uma realidade que nos escapa e transcende às categorias humanas, físicas e biológicas, pertencendo à dimensão sobrenatural de Deus... Os evangelhos não nos falam de uma aparição de Jesus ressuscitado a Maria. De qualquer modo, assim como Ela esteve de modo especial junto da cruz do Filho, também deve ter tido uma experiência privilegiada da sua ressurreição. Depois de tanto sofrimento, Maria vê o corpo ressuscitado do Filho livre dos maus tratos passados. A ferida das chagas que tinham sido para a mãe como espadas de dor viu-as convertidas em fontes de amor. A Igreja, felicitando Maria, passa a rezar na sua liturgia a partir deste domingo da Páscoa a oração “Regina Coeli” que ocupará o lugar do “Ângelus” durante o Tempo Pascal: "Rainha do Céu, alegra-te aleluia! Porque aquele que mereceste trazer no vosso seio ressuscitou como disse, aleluia! Roga por nós a Deus, aleluia"! E lhe pedimos que nos alcance a graça de ressurgir para sempre de todo o pecado, vivendo este Tempo Pascal muito unidos à Maria e à Jesus Cristo. [Fontes: Intimidade Divina, L 'Osservatore Romano, Falar com Deus e Nas Fontes da Palavra / adaptação: Dr. Wilson]

quarta-feira, 13 de abril de 2011

LITURGIA / ANO A - DOMINGO DE RAMOS - 17/04/2011

Dos ramos verdes de festa, à paixão e morte de cruz!
1a Leitura - Is 50,4-7: Não ocultei o rosto aos insultos.// 2a Leitura – Fl 2,6-11: Humilhou-se a si mesmo, por isso Deus o exaltou acima de tudo. // Evangelho - Mt 27,11-54: Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo Mateus.//

Toda a atividade espiritual da Quaresma, que está a terminar, teve como objetivo preparar os cristãos para viverem intensamente a Semana Santa que nos conduz à Páscoa. Esta semana abre-se com a recordação da entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. Jesus que sempre fugira a toda manifestação pública de ser proclamado rei (Jo 6,15), hoje se deixa conduzir em triunfo. Só agora, às vésperas da morte, aceita ser publicamente aclamado como messias, rei e vencedor. Aceita ser reconhecido rei, mas rei com características inconfundíveis: humilde e manso. Ao entrar na cidade santa montado num jumento, proclamará sua realeza diante dos tribunais e aceitará que seja imposta a inscrição de rei só na cruz. Hoje, Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde para darmos testemunho dele com o nosso comportamento.

Já na 1a Leitura, entrevemos no “Servo de Javé”, a figura de Jesus: não resistiu nem recuou diante dos que lhe batiam e o insultavam. Ao ouvirmos depois o relato do Evangelho de hoje, podemos dizer que se cumpre “o que estava escrito acerca dele”. Na seqüencia da 1a Leitura, o Salmo de Meditação escolhido é o Salmo 21, que Jesus rezou quando estava pregado na cruz. Ao fazermos nossos os sentimentos de Cristo, procuramos identificar-nos com Ele. O cristão há de saber descobrir na própria vida, a maneira de participar na obra redentora que começa com a Paixão de Cristo. Por isso, mesmo nas dificuldades, temos coragem para louvar a Deus.

A 2a Leitura constitui um hino de louvor em honra ao Filho de Deus. Aí se evoca o mistério da humilhação e da exaltação de Jesus. O ‘homem das dores’, que tomou a condição de escravo e obedeceu até a morte humilhante, é o Senhor, diante de quem se dobram todos os joelhos: “Por isso Deus o exaltou”! Este mistério prolonga-se na nossa vida: ao aspirarmos à exaltação, não podemos esquecer o caminho da humilhação que se nos apresenta sob aspectos muito variados.

Finalmente o Evangelho da Paixão. Nós sabemos agora que aquela entrada triunfal foi bastante efêmera. O ‘hosana’, entusiástico transformou-se cinco dias mais tarde, num grito furioso: “Crucifica-o!”. Como eram diferentes umas vozes e outras que diziam: - “Bendito o que vem em nome do Senhor, Hosana nas alturas!.. e logo depois, “Fora, fora, crucifica-o”. Como são diferentes as vozes que agora o aclamam rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: “Não temos outro rei além de César”! Como são diferentes os ramos verdes… e a cruz; as flores… e os espinhos! Aquele à quem estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e “lançam a sorte sobre elas”.

A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém pede-nos coerência, perseverança e aprofundamento da nossa fidelidade, para que os nossos propósitos não sejam luz que brilha momentaneamente e logo se apaga. Sabemos que a Paixão continua em nós, mas, por medo e fraqueza, nem sempre a aceitamos. Pretendemos alcançar a Ressurreição, sem termos passado pelos caminhos de calvário. Sonhamos com generosidades heróicas, mas temos medo da pequena cruz de cada dia: o nosso dever, o perdão generoso, a persistência no trabalho difícil, a aceitação da doença e da debilidade, o testemunho da caridade efetiva, a compreensão recíproca. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, devemos ser constantes e retirar tudo o que nos afasta de Deus e nos impede de acompanhar o Senhor até a cruz.

Maria também está em Jerusalém, perto de seu Filho, para celebrar a Páscoa, a última Páscoa judaica e a primeira Páscoa em que o seu Filho é sacerdote e vítima. Não nos separemos de Maria. Nossa Senhora nos ensinará a sermos constantes e a crescer continuamente no amor por Jesus. Permaneçamos ao seu lado para contemplar com ela a Paixão, a Morte e a Ressurreição de seu  Filho, porque não encontraremos lugar mais privilegiado...!

[Fontes: "L 'Osservatore Romano", "Palavra de Deus e Nova Evangelização", "Falar com Deus" e "Intimidade Divina" / adaptação: Dr. Wilson]

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Lázaro voltou à vida



1. Das profundezas clamo a Vós

Chegamos ao sinal (milagre) mais forte, apresentado por Jesus, para suscitar a atitude de fé. "Muitos judeus que tinham ido à casa de Maria, e viram o que Jesus fizera, creram nele" (Jo 11,45). O derradeiro e definitivo sinal será sua própria Ressurreição, razão de nossa fé (1Cor. 15,17), que é anunciada pela ressurreição de Lázaro.
Jesus é Vida, por isso pode dar a Vida! Ele ressuscitou três mortos (a menina, o jovem de Naim e Lázaro). Três significa plenitude. A narrativa conta que Jesus estava distante quando recebeu a notícia da doença de Lázaro. Ele não se apressa e diz: "Essa doença não leva à morte; mas serve para a glória de Deus e para que o Filho do Homem seja glorificado por ela" (Jo 11,4). Quando chegou a Betânia, Lázaro já estava morto há quatro dias. Já cheirava mal, como disse Marta. Jesus-Vida se contrapõe à morte do corpo e da alma. Esse milagre (sinal) demonstra a fragilidade da pessoa, como reza o salmo 129: "Das profundezas clamo a vós, Senhor, escutai minha voz".
Ezequiel faz uma profecia a partir do sinal dos ossos secos que cobriam a planície. Ele profetiza que eles se ajuntarão, serão cobertos de carne e que um Espírito de Vida lhes será infundido. Tornam-se um exército. Assim o povo sai da sepultura do sofrimento e vive (Ez. 37,1-14).
O milagre indica também a Vida. Jesus diz a Marta que Lázaro ressuscitará. Ela crê na ressurreição do último dia. Jesus vai além dessa "ressurreição" e afirma: "Eu sou a Ressurreição e a Vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá, e todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá para sempre. Crês isso?" (v. 25). Marta fazendo sua profissão de fé, completa: "Eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que deveria vir ao mundo" (v. 27) (= Messias – Filho de Deus – o Prometido). A ressurreição de Lázaro é símbolo do poder de Jesus de dar a Vida divina pela fé, O batismo nos dá essa vida. É uma ressurreição. Ele venceu a morte, que é a personificação do mal, e conquistou-nos a Vida.
2. O Espírito de Cristo.
O Espírito de Deus ressuscita Jesus. Essa Ressurreição pede nossa fé. Se a acolhermos, viveremos.
A fé cristã não é um acúmulo de palavras ou atitudes. É uma vida dada pelo Batismo. Nele fazemos a profissão de fé e recebemos a Vida. "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Essa vida nos é dada pelo Espírito de Deus, que nos dá a mesma vida que deu a Jesus, quando estava há três dias na sepultura.
Paulo escreve: "E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que Ressuscitou Jesus dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós" (1Cor 8,11). Além da vida divina, garante-nos a ressurreição do corpo. A doutrina católica afirma que nós ressuscitaremos com nosso corpo. Somos um corpo animado por uma alma espiritual, criada por Deus.
3. Vivos pela fé em Jesus
Paulo afirma que "os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus... Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo" (1Cor. 8,8-9). Os batizados recebem o Espírito de Cristo para viverem uma vida nova, coerente com a fé em Jesus.
O ritual do Batismo indica a vida pelas águas que, se por um lado afogam o mal, por outro, fazem germinar a Vida Nova pela fé em Jesus. Nossos corpos mortais são vivificados por meio do Espírito Santo que mora em nós (Rm 8,11). Jesus é a ressurreição e a vida. Com Ele nós ressuscitaremos e já vivemos sua Vida.
A mim, ó Deus, fazei justiça, defendei a minha causa contra a gente sem piedade; do homem perverso e traidor, libertai-me, porque sois, ó Deus, o meu socorro(cf. Sl. 42,1s).
Chegamos ao último domingo da Quaresma. Depois destes quarenta dias de profundo jejum, continuada penitência e grande retiro de oração vamos contemplar hoje o tema da Ressurreição e da Vida. Este quinto domingo da Quaresma, pelos antigos chamado de Domingo da Paixão, é ressaltado pelo grande episódio da Ressurreição de Lázaro. Ressurreição de Lázaro que causou ódio das autoridades civis daquele tempo contra Jesus, dando um sinal de como deveria ser a própria ressurreição do Senhor. O episódio de hoje conduz à Páscoa da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A primeira leitura (cf. Ez. 37,12-14) fala do tema da ressurreição, com a visão dos ossos revivificados pelo Espírito de Deus (cf. Ez. 37). Observamos, na leitura atenta desta perícope, que os ossos revivificados pelo sopro de Deus, explica uma visão precedente: a revivificação dos ossos (cf. Ez. 37,1-10). A morte serve aqui como figura de Israel, vivendo no Exílio, mais morto do que vivo. A revivificação é o gesto de Deus para reconduzi-lo a sua terra. Em tempos mais recentes, esta visão foi interpretada como a ressurreição dos mortos propriamente, e com razão, porque mais ainda que a volta do exílio, a ressurreição é obra do espírito vivificador de Deus e volta à plena comunhão com o Pai.
Por seu turno, a segunda leitura (cf. Rm. 8,8-11), fala do espírito que vivifica, mesmo se o corpo estiver morto; o espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos fará viver até os nossos corpos mortais. Assim, a missa de hoje, abre uma doce perspectiva que sustenta nossa conversão pascal, a partir da ressurreição do Cristo. A esperança no Senhor Ressuscitado que nos chama para a vida plena, para a ressurreição, a vida que não se acaba. O Espírito de Cristo nos faz viver pela justiça e sempre dá a vida aos corpos mortais. Em Romanos 6  que é a oitava leitura da vigília pascal  São Paulo falou da integração do cristo no Mistério da morte e ressurreição de Cristo. Quando o homem só vive de seu próprio Eu, ele é carne, existência humana precária e limitada. Não pode agradar a Deus. Mas com a integração em Cristo, pelo batismo, receber o Espírito, que ressuscitou Cristo dos mortos. Contudo, experimentamos em nós mesmo, que esta transformação ainda não tomou completamente conta de nós. Por isso, nossa fé é também esperança: o Espírito de Deus nos transformará sempre mais, se lhe dermos suficiente espaço.
Jesus hoje está a caminho de Jerusalém (cf. Jo 11,1-45 ou 11,3-7.17.20-27.33b-45). É a sua última viagem. Em Betânia, que fica distante apenas 3 km de Jerusalém, faz o grande milagre da ressurreição de Lázaro, a doação da plenitude da vida. O próprio Cristo nos anuncia: Eu sou a Ressurreição e a Vida (cf. Jo 11,25), ligando com a liturgia do domingo precedente: Eu sou a Luz do Mundo, quem me segue não andarás nas trevas, mas terá a Luz da Vida.
No terceiro domingo da Quaresma, no episódio da Samaritana se falou em água viva, em água que jorra para a vida eterna, e o Senhor se apresente como quem é capaz de dar de beber esta água salvadora. No quarto domingo da Quaresma, Jesus se apresentou como a Luz do Mundo. A água e a luz fazem crescer, vivificar os seres vivos. Sem água e sem luz, temos a morte. Por isso, a partir da água e da luz, Jesus reafirma a sua divindade e o seu poder de dar a vida, e a vida plena, que não se acaba. Exatamente, isso, com caridade extrema, foi à atitude de Jesus a ressuscitar Lázaro.
Da morte de Cristo irrompe e nasce a vida plena. Os mortos ouvirão a voz do Cristo e brotarão ressuscitados, porque todo o homem que crer no Senhor não ficará morto para sempre.
Betânia era parada obrigatória para os peregrinos que iam a Jerusalém. Ali eles tomavam banho, se preparavam para entrar em Jerusalém. E não podia ser diferente com Jesus e com os apóstolos. E a parada de Jesus era a carta de Maria, de Marta e de Lázaro, seus amigos íntimos.
Mas, qual seria a grande lição do Evangelho deste domingo:  as palavras de Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida.
A mesma pergunta de Jesus a Marta é a pergunta que devemos nos fazer hoje: Crês isto?
E, também, a resposta de Marta é a mesma resposta que Cristo espera de cada um de nós: Creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus!
Diante de um túmulo fechado, com choros e lamentações dos irmãos e dos conhecidos de Lázaro, estava a humanidade perdida e sem esperança. O homem é inerte perante a morte se não a contemplar com os olhos da doce alegria cristã, a esperança na vida eterna. Jesus chega diante do túmulo. Jesus, o homem-Deus, dá uma ordem e Lázaro revive. A morte não é obstáculo para Jesus, porque Ele a venceu, vence e sempre a vencerá, porque Ele é a vida sem fim. Neste gesto cândido e santo, de dar a vida a um mortal fiel, Jesus nos anuncia o nosso destino, se cremos Nele, vivermos Para Ele e Seguirmos os Seus Mandamentos, a sua Palavra de Salvação.
Ressurreição e Luz são dois temas intimamente ligados, porque são sinônimos da salvação: Se alguém caminha de dia, não tropeça; mas tropeçará, se andar de noite(cf. Jo 11,10).
O tema central do Evangelho de hoje é a vida. Vida que foi restituída a Lázaro e que está ligada à amizade, ao amor fraterno, a compaixão, atitudes cristãos que estão presentes na glorificação de Deus, que é o destino dos homens e mulheres que crêem verdadeiramente. A vida verdadeira, que o Cristo trouxe, tem face humana e face divina, que se misturam.
A ressurreição de Lázaro é um dos maiores sinais de Jesus. Jesus, assim, vai manifestando a sua filiação divina, seu poder messiânico, sua missão salvadora, e provoca, cada vez mais, a admiração, a fé, o testemunho daqueles que são beneficiados pela sua ação evangelizadora. O próprio Evangelista João anuncia que Jesus fez muitos outros sinais, e que Estes sinais foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, em crendo, tenhais a vida (cf. Jo 20,30-31).
Assim, poderíamos afirmar que a vida do homem é a razão de ser da encarnação de Jesus. Os milagres e sinais de Jesus foram efetuados para destacar a vida plena, a vida que só ele pode nos dar.
Na sua mensagem para a Quaresma de 2011, com sabedoria, nos preleciona o Santo Padre Bento XVI: Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto? (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27).A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n'Ele. A fé na ressurreição dos mortos a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos da água e do Espírito Santo, e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à ação da Graça para sermos seus discípulos.
Enxertados em Cristo pelo batismo, vencemos nossa morte na sua morte; co-ressuscitados no Cristo ressuscitado. É a vitória de cada homem batizado sobre a morte. É a vitória de toda a história sobre a morte, história que, na perspectiva cristã, não caminha para o caos final, mas para a ressurreição final. É a vitória da criatura sobre a morte; ela escapa à condenação na perspectiva dos céus novos e da nova terra. Essa perspectiva dá à vida tranqüilidade, serenidade interior, paz profunda, confiança e esperança. Em Cristo não há uma parcela de vida, por menor que seja, que não se destine à ressurreição.
Jesus afirmou: EU SOU A VIDA; EU SOU O PÃO DA VIDA, EU SOU A LUZ DA VIDA. Jesus veio ao mundo para despertar a criatura humana do sono.
E esta vida nova só será possível àqueles que viverem, com dignidade, a grandeza do seu batismo. Aderindo a Cristo o batizado deve viver uma vida realmente nova, animada pelo espírito de Cristo. Mas sem a fé, traduzida em obras, o batismo ficará morto. A vida da fé batismal se verifica, se atualiza, por exemplo, quando ela transforma a sociedade de morte numa comunidade viva de vida, de fraternidade e de comunhão.