quarta-feira, 31 de agosto de 2011

LITURGIA / ANO A - 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM - 04 / SET / 2011

* A lei do amor mútuo! *
1a Leitura - Ez 33,7-9: Se não advertires o ímpio, eu te pedirei contas da sua morte.// 2a Leitura - Rm 13, 8-10: O amor é o cumprimento perfeito da Lei.// Evangelho - Mt 18,15-20: Se ele te ouvir, tu ganharás o teu irmão. //

 A liturgia deste domingo leva-nos a refletir de que maneira nos relacionamos com os irmãos: ‘Não tenhais dívidas para com ninguém a não ser a do amor mútuo’ [2a Leitura]. Eis a grande dívida que cada pessoa deve apressar-se em pagar; dívida por ser o amor recíproco exigência da natureza humana e porque o próprio Deus quis resguardar tal exigência com um mandamento extremamente importante, resumo de toda a lei: ‘Quem ama o próximo cumpriu a lei’. No amor para com Deus e para com o próximo está encerrada toda a Lei. Todos os preceitos que regulam as relações humanas culminam no amor. Amor ordenado não só para o bem material dos irmãos, mas ao mesmo tempo também para seu bem espiritual e eterno. Quando Deus perguntou a Caim, o homicida: ‘Onde está teu irmão Abel?’, Caim responde: - ‘Não sei. Acaso sou o guarda de meu irmão?’ (Gn 4,9). Esta resposta é o protótipo da atitude do "Caim dissimulado" em todo o coração humano. Porque, de muitas maneiras, por ação ou omissão, somos responsáveis pela vida de nosso irmão ou culpados por irresponsabilidade. Nesse contexto se prende a 1ª Leitura. Deus constitui Ezequiel como sentinela de seu povo e lhe diz: ‘Se não advertires o ímpio para que ele mude de procedimento, ele morrerá por causa de seu pecado, mas de ti exigirei o preço de seu sangue’. Esta obrigação de Ezequiel não é fácil. Por um lado pode atrair-lhe perseguições e vinganças daqueles a quem denuncia por suas más ações; por outro, se não cumpre o seu dever, ele é responsável pela relutância do ímpio em mudar de conduta. Não faltam na história do Povo de Deus e da Igreja, casos de profetas, apóstolos, discípulos, sacerdotes, consagrados (as) e cristãos leigos autênticos que pagaram com a vida a fidelidade a esta missão. É sempre grande a responsabilidade de quem recebeu tarefa semelhante: pastores do povo de Deus, superiores religiosos, pais e mães de família, educadores, os quais guardam com zelo o seu "rebanho", grande ou pequeno que seja. O medo de ser repelido, de perder a popularidade ou de vir a ser tachado de intransigente, não justifica o "lavar-se as mãos". Quem ama não sossega enquanto não acha meios de se chegar ao culpado e admoestá-lo com firmeza, mas também com bondade. O Evangelho estende este dever a todo o fiel que vir o irmão cair em pecado: "Se teu irmão vier a pecar, vai e repreende-o a sós. Se ele te escutar, terás ganho o teu irmão". Primeiramente deve a admoestação ser secreta, a fim de tentar preservar a dignidade do suposto culpado. Infelizmente na prática, com freqüência, fala-se e murmura-se junto de outras pessoas publicando o que estava oculto, enquanto pouquíssimos tentam conversar de modo particular com o interessado. Que adianta discutir uns com os outros a doença de alguém se não buscamos curar o doente? Cumpre, ao contrário, procurar recuperar o irmão. Sua perda é um dano para si e para a comunidade, mas a reconquista é vantagem para todos. Ao se descobrir em todo ser humano, pela nossa fé cristã um irmão (ã) em Cristo, devemos agir sempre de modo solidário no amor fraterno, porque essa é a grande dívida que cada pessoa deve apressar-se em pagar: ‘Não tenhais dívidas para com ninguém a não ser a do amor mútuo'.

[Fontes: "Palavra de Deus e Nova Evangelização", "L'OSSERVATORE ROMANO", "Intimidade Divina" e nas "Fontes da Palavra" / Adaptação: Wilson].

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

LITURGIA / ANO A – 22º DOMINGO DO TEMPO COMUM - 28 / AGO / 2011

* O Mistério da Cruz *
1aLeitura - Jr 20,7-9: “Tornei-me alvo de zombaria, todos se riem de mim”.// 2aLeitura - Rm 12,1-2: “Eu vos exorto irmãos a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto”.// Evangelho - Mt 16,21-27: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo”.//

Não é apenas na Quaresma que a Igreja nos recorda os sofrimentos de Jesus e o seu significado na vida do cristão. Pregar a cruz de Cristo faz parte da mensagem habitual da Igreja e que hoje é abordada na liturgia.

A 1ª Leitura nos mostra o exemplo do profeta Jeremias que viveu dramaticamente sua total fidelidade a Deus. Do modo como foi perseguido e maltratado, por causa de sua vocação profética autêntica, apresenta-se como pré-figura de Cristo. As perseguições de que é alvo nos fazem lembrar os sofrimentos do Mestre e também os sofrimentos de muitos cristãos perseguidos que ofereceram e apostaram suas vidas pelo Evangelho em todos os tempos e na atualidade. Com este pensamento, vemos São Paulo na 2ª Leitura exortar-nos a que nos ofereçamos como oblação santa, hóstias vivas agradáveis a Deus. Assim, a Igreja, ao celebrar a Eucaristia, nos convida à união com o sacrifício de Cristo. Estendendo para o nosso trabalho quotidiano, o bem que fazemos e ‘a cruz de cada dia’, ligam-se à oblação que Jesus faz de si próprio.

No Evangelho da missa, Cristo fala aos discípulos sobre sua paixão e morte de cruz que estavam por vir. Pedro reage com veemêcia e sua resposta é quase uma súplica: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!" (Mt 16,23). Custava ao apóstolo desprender-se da concepção judaica do messias triunfante, libertador do jugo romano, e ter que aceitar um salvador destinado à morte de cruz. Há momentos onde o plano de Deus se opõe mais claramente à maneira de pensar dos homens: "Quanto os céus estão acima da terra, tanto os meus caminhos estão acima dos vossos caminhos" (Is 55,9).

O mesmo Pedro que, em virtude de sua confissão de fé, foi escolhido por Cristo como pedra viva sobre a qual é edificada sua Igreja, recebe do Senhor uma severa reprimenda por seus pensamentos puramente humanos, alheios ao plano de Deus, e diz-lhe: “Afasta-te, satanás!” São Paulo, consciente desta dificuldade, falava do "escândalo da cruz" [1 Cor 1,23]. No mundo atual conhecemos pessoas marcadas com grande carga de sofrimento e, apesar disso, profundamente humanas, maduras e ricas para os outros. Por outro lado, conhecemos outros aparentemente mimados pela sorte, mas desprovidos de humanismo e inúteis para a sociedade.

O peso ou sofrimento que atinge um membro da comunidade pode ser absorvido por este ou repassado a outrem, como são repassados os maus humores, as indelicadezas, a falta de solidariedade no trânsito, nas filas, etc., até que alguém interrompa esse "círculo vicioso do mal". Para que se quebre esse círculo é absolutamente necessário que haja um amor gratuito, que um justo sofra pelo injusto e então entendamos finalmente o insuperável amor de Cristo pelo homem ao "pagar a conta" dos nossos pecados pela sua morte de Cruz.

Para o cristão autêntico, negar-se a si mesmo e tomar a cruz, não é alimentar sentimento de resignação ou cair no fatalismo, e sim libertar-se do próprio egoísmo para que frutifique em nós a ação de Deus! Assim, a renúncia de si mesmo, longe de ser uma atitude negativa ou conformista, é na verdade a escolha positiva do querer seguir a Cristo. Do mesmo modo que se dirigiu aos servos nas bodas de Caná, Maria continua hoje dirigindo a nós o seu pedido: "Fazei o que Ele vos disser"! (Jo 2,5). [‘Fontes: Palavra de Deus e Nova Evangelização’, ‘L 'OSSERVATORE ROMANO’, ‘Falar com Deus’ e ‘A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração’ / adaptação: Wilson]

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Festa de Santa Clara de Assis

IRMÃ CLARA DE ASSIS

O estilo de vida de Francisco não poderia ser privilégio dos homens. Muitas mulheres escutavam sua pregação, observavam seu estilo de viver o Evangelho e também queriam essa oportunidade. Uma delas foi Clara.
Nasceu Clara em torno de 1193 em Assis, filha de Ortolana di Fiumi e Faverone Offreduccio. Recebera da mãe uma sólida religiosidade e do pai a força de caráter. Tinha mais três irmãs e um irmão. A caçula era Inês. Francisco a conhecia de vista, pois em Assis todos se conheciam. Admirava nela os longos cabelos dourados e seus olhos decididos. Quando queria uma coisa, era porque queria.

Aos 18 anos, Clara ouviu Francisco pregar os sermões da Quaresma na igreja de São Jorge, em Assis. As palavras dele inflamaram tanto seu coração, que o procurou em segredo, pois também ela desejava viver "segundo a maneira do santo Evangelho".

Francisco lhe falou sobre o desprezo do mundo e o amor de Deus, e fortaleceu-lhe o desejo nascente de abandonar tudo por amor a Cristo. Encerrou a conversa dizendo: "Quero contar-te um segredo, Clara: desposei a Senhora Pobreza e quero ser-lhe fiei para sempre". Clara respondeu que "queria viver a mesma vida, a mesma oração e sobretudo a mesma pobreza".

Acompanhada de Bona di Gueifuccio, amiga íntima, para escutar Francisco passou a freqüentar a capela da Porciúncula. Estava decidida a viver o

Evangelho ao pé da letra. Mas, como sair de casa? Francisco e os irmãos ensinaram-lhe o modo.

O dia 18/19 de março de 1212 era Domingo de Ramos. Rica e belamente vestida, Clara participou da Missa da manhã. Não havia meio de sair desapercebida do castelo de seus pais, mas encontrou a única saída possível pela porta de trás do palacete: a saída dos mortos. Toda casa medieval tinha esta saída, por onde passava o caixão dos defuntos.

À noite, quando todos dormiam, a nobre jovem Clara de Favarone fugiu de casa por esse buraco, percorrendo uma milha fora da cidade, até chegar à Porciúncula, onde foi recebida com muita festa pelos irmãos franciscanos, que tinham ido ao seu encontro com tochas acesas e a acompanharam até à porta da igreja.

Ali se desfez das vestes elegantes e São Francisco, com uma grande tesoura, lhe corto os cabelos, causando-lhe dó cortar tão maravilhosa cabeleira. Em seguida, deu-lhe o hábito da penitência: uma túnica de aniagem amarrada em volta por uma corda e um par de tamancos de madeira. Clara se consagrou pelos três votos: pobreza, obediência e castidade.

Os familiares, enfurecidos, foram procurá-la. Entrando na capela, viram Clara agarrada ao pé do altar. Puxaram-na com tanta força que arrancaram o véu, percebendo então a cabeça raspada Concluíram que nada mais poderiam fazer Não conseguiriam mudar-lhe a idéia.

Como Francisco não tinha convento para freiras, irmã Clara ficou alguns dias no mosteiro de São Paulo e algumas semanas no mosteiro beneditino de Panzo.


Por fim, recolheu-se a São Damião, numa casa pobre contígua à capela, onde ficou at sua morte em 1253. Seguiu-a na vocação a irmã Inês, 16 dias depois, e mais tarde sua irmã Beatriz e a mãe Ortolana.

A obra tornou-se conhecida e diversas mulheres e jovens vieram fazer-lhe companhia. Ficaram conhecidas como as Senhoras Pobres, ou Irmãs Clarissas. Em pouco tempo, havia mosteiros em diversas localidades da Itália, França, Alemanha. Inês, filha do rei da Boêmia também fundou um convento em Praga, e ela mesma tomou o hábito.


Como Francisco, Clara não aceitava qualquer propriedade. Quando o Papa Gregório IX lhe ofereceu uma renda, Clara protestou veementemente, dizendo: "Eu preciso ser absolvida dos meus pecados, mas não desejo ser absolvida da obrigação de seguir a Jesus Cristo". Em 1228, o Papa lhe concedeu o "Privilégio da Pobreza". Tinha sido um pedido insistente de Clara. Na Cúria romana, onde se pediam privilégios de títulos, propriedades, honrarias, causou até espanto alguém pedindo o "privilégio de ser pobre". Clara e Francisco conheciam a alma do mundo e sabiam que qualquer exceção à regra da pobreza desencadearia sua negação. Francisco o exemplificou com o caso do livro que um frade queria ter: primeiro se quer um livro, depois mais livros, depois uma estante, vem uma biblioteca, segue-se uma casa para guardá-la e, adeus pobreza evangélica.

Mais tarde, em 1247, o papa Inocência IV queria impor às Senhoras Pobres uma Regra que de certo modo permitisse a propriedade comum. Preocupada, Clara mesma redigiu uma Regra, lembrada de tudo o que vira e aprendera com Francisco. E pede, por amor de Deus, que concedam ao Convento de São Damião o "Privilégio da Pobreza". Esta Regra foi aprovada dois dias antes de sua morte, valendo o privilégio para São Damião. Para os outros conventos, permitiu-se uma espécie de propriedade comum.

Francisco e Clara, amizade de Santos

A obra de Clara estava sempre no coração de Francisco. Muitas vezes ele enviou doentes e enfermos que ela conseguia curar à força de delicados cuidados. Apesar de sua humildade, Francisco era obrigado a reconhecer a grande admiração que Clara e as outras irmãs tinham por ele. Era uma admiração espiritual, mas também humana. Para evitar qualquer tipo de dependência e para deixá-las totalmente livres dele, passou a visitá-las cada vez mais raramente. As irmãs sofriam sua ausência e alguns frades acharam que isso era falta de caridade, mas Francisco disse que a finalidade da ausência era "no futuro não haver nenhum intermediário entre Cristo e as irmãs".

Após longa ausência e depois de muitos pedidos das irmãs, num dia Francisco aceitou ir pregar em São Damião. Entrou na igreja e ficou um momento de pé, rezando de olhos levantados para o céu. Depois pediu um pouco de cinza. Com ela desenhou um círculo à sua volta e o resto passou na cabeça. E então rompeu o silêncio, não para pregar, mas para rezar o Salmo da Penitência (Si 50). Depois foi embora, feliz por ter ensinado à Clara e às irmãs que nada mais podiam ver nele do que um pecador que fazia penitência.

Em março de 1225, já muito doente, Francisco visitou Clara em São Damião e manifestou o desejo de ali permanecer, mas a doença exigia tratamentos em outros lugares. Foi ali, sofrendo terrivelmente com a doença e o barulho dos ratos que lhe impediam o sono, que explodiu num hino de alegria ao Criador, o "Cântico do Irmão Sol". Foi no jardinzinho de Clara, e pela última vez, que os dois conversaram. No ano seguinte morreu o pai Francisco e Clara viveu mais 27 anos na paz e na saudade de Francisco.

A si própria Clara gostava de se denominar "uma plantinha do bem-aventurado pai Francisco".
Ela nunca deixou os muros do convento de São Damião. Designada abadessa (superiora) por Francisco, em 1215, Clara dirigiu o convento durante 40 anos. Sempre quis ser serva das servas, submissa a todas e beijando os pés das irmãs leigas quando regressavam do trabalho de esmolar, servindo à mesa, assistindo aos que estivessem doentes. Enquanto as irmãs descansavam, ela ficava em oração e as cobria, caso as cobertas lhes caíssem. Saía da oração com o semblante tão iluminado que chegava a ofuscar a vista das que a olhavam. Falava com tanto fervor que chegava a inflamar os que mal ouviam sua voz.

A exemplo de Francisco, nutria fervorosa devoção ao Santíssimo Sacramento. Mesmo quando estava doente e acamada (esteve sempre doente nos últimos 27 anos de vida), ficava confeccionando belos corporais e toalhas para o serviço do altar, que depois distribuía pelas igrejas de Assis.


A força e a eficácia poderosa de sua oração pode ser sentida em 1244, quando o imperador Frederico II atacou o vale de Espoleto, tendo a seu serviço um exército de sarracenos. Lançaram-se ao saque de Assis, e como São Damião ficava fora dos muros, resolveram começar por ali. Embora muito doente, Clara fez colocar o Santíssimo num ostensório, bem à vista do inimigo. E Clara orou com grande fervor, pedindo a Cristo que salvasse suas irmãs do saque e do estupro. Em seguida, orou pela cidade de Assis. No mesmo instante, o terror se apoderou dos assaltantes, que fugiram em debandada.


A morte de uma Santa

Clara suportou os longos anos de enfermidade com sublime paciência. Em 1253, teve
início uma longa e interminável agonia. O papa Inocêncio IV deu-lhe duas vezes a absolvição com o perdão dos pecados, e comentou: "Queira Deus que eu necessitasse de perdão tão pouco assim". Doente e pobre, as mais altas autoridades da Igreja sentiam sua sabedoria e santidade e vinham aconselhar-se com ela em São Damião.

Durante os últimos 17 dias não conseguiu tomar nenhum alimento. A fé e a devoção do povo aumentavam cada vez mais. Diariamente cardeais e prelados chegavam para visitá-la, pois todos tinham certeza de que era uma santa que estava para morrer

Irmã Inês, sua irmã, estava presente, bem como os três companheiros de Francisco, os freis Leão, Ângelo e Junípero. Vendo que a vida de Clara estava chegando ao fim, emocionados, leram a Paixão de Jesus segundo João, como tinham feito 27 anos antes, na morte de Francisco.

Clara consolou e abençoou suas filhas espirituais. E, para si, disse: "Caminha s pois tens um bom guia. ó Senhor, eu vos agradeço e bendigo pela graça que vos conceder-me de poder viver'. E foi recebida na corte celeste. Era Senhora Pobre h tinha 60 de vida.


Dois anos após sua morte, o papa Alexandre IV canonizou-a em Anagni. Era o ano de 1255.