quinta-feira, 17 de março de 2011

LITURGIA / ANO A – 2º DOMINGO DA QUARESMA – 20 / MARÇO / 2011

1a Leitura - Gn 12,1-4: Vocação de Abraão, pai do povo de Deus. // 2a Leitura - 2Tm 1,8-10: Deus nos chama e ilumina. // Evangelho - Mt 17,1-9: O seu rosto brilhou como o sol. //

A nossa vida terrestre pode ser visualizada como uma verdadeira quaresma rumo à páscoa definitiva da ressurreição. Na quaresma da vida, duas brilhantes imagens se alternam com freqüência, manifestando-se na forma de promessas. Algumas são deslumbrantes, mas ilusórias, cheias de enganosas promessas à semelhança das tentações do deserto (evangelho do domingo passado).

Outras imagens brilham como as promessas feitas por Deus a Abraão na 1a Leitura: ”Vai para a terra que eu te mandar e eu te abençoarei e farei de ti um grande povo. A história vivida por Abraão sugere que a verdadeira vida cristã é como um colocar-se a caminho, tateando pelo deserto, obediente ao plano do Pai (1ª Leitura). Nesta caminhada somos fortificados pelo poder de Deus que nos chama a uma vocação santa (2ª Leitura) e na perspectiva de nossa transfiguração à semelhança de Cristo (Evangelho). Para alguém se pôr a caminho com obediência à fé em profundidade, geralmente existe um grande começo marcado por uma clara experiência de Deus, uma transfiguração. Necessitamos de uma experiência iluminadora e transformadora em torno da qual gravite toda a nossa vida. Muitos viveram esta experiência ao participarem de um retiro em uma encruzilhada propícia para grandes decisões em sua existência; outros na própria trama da vida foram subindo de algum modo a montanha simbólica para um encontro com a luz do Espírito Santo.

A 1a Leitura coloca diante de nós o testemunho da resposta de Abraão ao chamado divino. Cada um de nós é também chamado por Deus. O caminho da nossa vocação nem sempre é claro e fácil. Em muitas ocasiões, o simples fato de ser cristão coerente e digno, traz já consigo muitas exigências. Somos tentados a medir "prudentemente" os planos de Deus, a querer fazer contas, a pedir explicações e a contentar-nos com um cristianismo vivido pela metade, feito de algumas práticas rituais, sem grandes compromissos. Nesses momentos, o exemplo de Abraão pode estimular-nos à generosidade na entrega ao plano divino.

São Paulo recorda a Timóteo na 2a  Leitura  que Deus nos chama com um objetivo preciso: "para sermos santos". Como acolhemos esta vocação? Somos prontos e generosos em responder? A quaresma é tempo privilegiado em que Deus se faz ouvir com mais insistência no chamado à santidade. Não podemos ficar indiferentes a este apelo. Nas escrituras, a montanha é o lugar preferido do encontro com o Deus santo. A adoração e a prostração, da qual o cristão de hoje apenas guarda o simbolismo de uma ligeira genuflexão, deve ser expressão do pecador perante Deus:- "Os discípulos ... caíram com o rosto em terra" (Mt 17,6). Tocar a terra com a face é sinal de contrição pelos nossos pecados frente à santidade de Deus. Mas, ao mesmo tempo, quem se acostumar a estar com Cristo na "alta montanha", terá certeza de que só Deus nos pode erguer do pó e da opressão do pecado. Mais importante que a prostração dos discípulos é o gesto de Jesus. Ele os toca e, por sua força, eles se levantam e ficam ao lado de Jesus e em comunhão com ele. Quem está com o mestre começa a discernir todas as coisas. Diz Santo Inácio a respeito: "É próprio de o Bom Espírito (o Espírito Santo) dar ânimo e forças, consolação, quietude" (Exercício 315); "É próprio de Deus dar verdadeira alegria espiritual, tirando toda a tristeza e perturbação que o mau espírito produz." (Exercício 329).

No Evangelho da transfiguração, ao contemplarmos a glória de Cristo, ouvimos o convite do Pai:- "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!" Temos que nos interrogar sobre o significado desta mensagem. O que ela significa para nós nesta quaresma? Ouvir Jesus, assimilar sua Palavra e renovar nossa vida, é uma das atividades próprias da quaresma. Nessa renovação está o início de nossa transfiguração definitiva e, portanto não é preciso esperar o fim dos tempos; somos desde já chamados a viver a vida de Cristo em nós e transmiti-la aos outros para a transformação do mundo!

[“Fontes: “L’ OSSERVATORE ROMANO”, “A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração” e “Palavra de Deus e Nova Evangelização" / adaptação: Dr. Wilson].

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