* Iluminados por Cristo *
1a Leitura - 1Sm 16,1.6-7.10-13: Davi é ungido rei de Israel.// 2a Leitura - Ef 5,8-14: "Outrora éreis trevas, mas agora sois luz do Senhor".// Evangelho - Jo 9,1-41: O cego foi, lavou-se e voltou enxergando.//
Neste domingo, a meio da Quaresma, é abordado o tema do batismo. No evangelho do domingo passado, a água oferecida por Cristo à samaritana também é interpretada pela Igreja como um símbolo batismal, início de fonte de vida de plenitude sem fim. A unção real do jovem ainda pastor Davi, por meio da qual o profeta Samuel o consagra a Deus (1a Leitura), é representação do batismo cristão, sacramento de fé que torna a pessoa ungida iluminada pelo Espírito Santo.
À semelhança de Davi, somos como ele eleitos e consagrados. Lembrando dessa nossa consagração, devemos renovar a graça do nosso batismo durante a Quaresma e refletir se somos realmente fiéis à nossa vocação em meio ao povo de Deus. É o que o apóstolo São Paulo nos recorda na 2a Leitura, para que andemos como filhos da luz: "Outrora éreis trevas, antes do batismo, mas depois que Cristo vos iluminou, sois luz! Vivei como filhos da luz" (Ef 5,8). ‘Viver como filhos da luz’, que significado tem para nós esta expressão? As nossas palavras e atitudes podem iluminar ou ser causa de perturbação. Segundo São Paulo, os que foram iluminados por Cristo devem produzir frutos de bondade, justiça e verdade. Estes termos simples, que toda a gente compreende, são de aplicação concreta e imediata: ser bom, ser justo, ser verdadeiro. Assim deve apresentar-se o cristão.
No Evangelho deste domingo, o batismo é interpretado como sinal que ilumina os olhos de um cego de nascimento, que caminha como peregrino no escuro, a quem Jesus restitui a preciosa visão, tornando-o acima de tudo iluminado pela graça divina. Ao dizer: ‘recebe a luz de Cristo’, o presidente da celebração batismal dirige uma exortação ao batizado, por meio dos pais e padrinhos que têm sua responsabilidade educativa, para ‘viver como filho da luz’. A fé é um encontro com a luz de Cristo e, para que caminhemos em uma progressiva iluminação interior, a primeira condição é a humildade de coração. Ao examinarmos um cego de nascença, encontramos nele uma humildade natural em função de sua limitada condição. Ele é um desses ‘pequenos’, como Davi na 1a Leitura, para cujo coração o Senhor olha com predileção. É um dos ‘pobres’, aos quais Jesus considera bem-aventurados porque a eles é oferecida a felicidade do reino. O primeiro gesto do cego no evangelho de hoje, é um testemunho de fé humana. Entregar-se confiante, mansamente, sem entender nada, sem queixas nem observações, quando é aplicada sobre seus olhos a lama obtida da mistura da terra do chão com a saliva de Cristo, só é possível com a admirável simplicidade e humildade do cego de nascença. O seu segundo gesto, de caminhar de forma obediente até a fonte, tateando com o rosto enlameado para lavar-se em suas águas, confirma sua atitude humilde como participante ativo de quem vai ao encontro da luz. Mais tarde, o ex-cego de nascença se depara com o medo expresso de seus pais em despertar a ira dos fariseus, caso dessem testemunho de sua cura, receando a perseguição daqueles “doutores” tão apegados à sua Lei, que não aceitavam identificar o milagre como tendo sido feito por Jesus. Enquanto aqueles se afundavam nas trevas, o ex-cego cresce na fé e, no seu segundo encontro com Cristo, reconhece-o como Deus em ato convicto de adoração: ‘Eu creio, Senhor! E prostrou-se diante de Jesus’ (Jo 9,38)
A Quaresma é ocasião para limpar os nossos olhos com o colírio da fé. Cegos também nós nascemos de Adão e precisamos ser iluminados por Cristo. ‘Se o amas, segue-O. Mas se respondes: Não vejo o caminho, lembra-te que Ele também deu a vista aos cegos’ (dos tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho).
[Fontes: ‘L Osservatore Romano’,‘Intimidade Divina’, ‘Nas Fontes da Palavra’ e ‘Palavra de Deus e Nova Evangelização’ - adaptação: Dr. Wilson]