1. Das profundezas clamo a Vós
Chegamos ao sinal (milagre) mais forte, apresentado por Jesus, para suscitar a atitude de fé. "Muitos judeus que tinham ido à casa de Maria, e viram o que Jesus fizera, creram nele" (Jo 11,45). O derradeiro e definitivo sinal será sua própria Ressurreição, razão de nossa fé (1Cor. 15,17), que é anunciada pela ressurreição de Lázaro.
Jesus é Vida, por isso pode dar a Vida! Ele ressuscitou três mortos (a menina, o jovem de Naim e Lázaro). Três significa plenitude. A narrativa conta que Jesus estava distante quando recebeu a notícia da doença de Lázaro. Ele não se apressa e diz: "Essa doença não leva à morte; mas serve para a glória de Deus e para que o Filho do Homem seja glorificado por ela" (Jo 11,4). Quando chegou a Betânia, Lázaro já estava morto há quatro dias. Já cheirava mal, como disse Marta. Jesus-Vida se contrapõe à morte do corpo e da alma. Esse milagre (sinal) demonstra a fragilidade da pessoa, como reza o salmo 129: "Das profundezas clamo a vós, Senhor, escutai minha voz".
Ezequiel faz uma profecia a partir do sinal dos ossos secos que cobriam a planície. Ele profetiza que eles se ajuntarão, serão cobertos de carne e que um Espírito de Vida lhes será infundido. Tornam-se um exército. Assim o povo sai da sepultura do sofrimento e vive (Ez. 37,1-14).
O milagre indica também a Vida. Jesus diz a Marta que Lázaro ressuscitará. Ela crê na ressurreição do último dia. Jesus vai além dessa "ressurreição" e afirma: "Eu sou a Ressurreição e a Vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá, e todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá para sempre. Crês isso?" (v. 25). Marta fazendo sua profissão de fé, completa: "Eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que deveria vir ao mundo" (v. 27) (= Messias – Filho de Deus – o Prometido). A ressurreição de Lázaro é símbolo do poder de Jesus de dar a Vida divina pela fé, O batismo nos dá essa vida. É uma ressurreição. Ele venceu a morte, que é a personificação do mal, e conquistou-nos a Vida.
2. O Espírito de Cristo.
O Espírito de Deus ressuscita Jesus. Essa Ressurreição pede nossa fé. Se a acolhermos, viveremos.
A fé cristã não é um acúmulo de palavras ou atitudes. É uma vida dada pelo Batismo. Nele fazemos a profissão de fé e recebemos a Vida. "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Essa vida nos é dada pelo Espírito de Deus, que nos dá a mesma vida que deu a Jesus, quando estava há três dias na sepultura.
Paulo escreve: "E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que Ressuscitou Jesus dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós" (1Cor 8,11). Além da vida divina, garante-nos a ressurreição do corpo. A doutrina católica afirma que nós ressuscitaremos com nosso corpo. Somos um corpo animado por uma alma espiritual, criada por Deus.
3. Vivos pela fé em Jesus
Paulo afirma que "os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus... Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo" (1Cor. 8,8-9). Os batizados recebem o Espírito de Cristo para viverem uma vida nova, coerente com a fé em Jesus.
O ritual do Batismo indica a vida pelas águas que, se por um lado afogam o mal, por outro, fazem germinar a Vida Nova pela fé em Jesus. Nossos corpos mortais são vivificados por meio do Espírito Santo que mora em nós (Rm 8,11). Jesus é a ressurreição e a vida. Com Ele nós ressuscitaremos e já vivemos sua Vida.
A mim, ó Deus, fazei justiça, defendei a minha causa contra a gente sem piedade; do homem perverso e traidor, libertai-me, porque sois, ó Deus, o meu socorro(cf. Sl. 42,1s).
Chegamos ao último domingo da Quaresma. Depois destes quarenta dias de profundo jejum, continuada penitência e grande retiro de oração vamos contemplar hoje o tema da Ressurreição e da Vida. Este quinto domingo da Quaresma, pelos antigos chamado de Domingo da Paixão, é ressaltado pelo grande episódio da Ressurreição de Lázaro. Ressurreição de Lázaro que causou ódio das autoridades civis daquele tempo contra Jesus, dando um sinal de como deveria ser a própria ressurreição do Senhor. O episódio de hoje conduz à Páscoa da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A primeira leitura (cf. Ez. 37,12-14) fala do tema da ressurreição, com a visão dos ossos revivificados pelo Espírito de Deus (cf. Ez. 37). Observamos, na leitura atenta desta perícope, que os ossos revivificados pelo sopro de Deus, explica uma visão precedente: a revivificação dos ossos (cf. Ez. 37,1-10). A morte serve aqui como figura de Israel, vivendo no Exílio, mais morto do que vivo. A revivificação é o gesto de Deus para reconduzi-lo a sua terra. Em tempos mais recentes, esta visão foi interpretada como a ressurreição dos mortos propriamente, e com razão, porque mais ainda que a volta do exílio, a ressurreição é obra do espírito vivificador de Deus e volta à plena comunhão com o Pai.
Por seu turno, a segunda leitura (cf. Rm. 8,8-11), fala do espírito que vivifica, mesmo se o corpo estiver morto; o espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos fará viver até os nossos corpos mortais. Assim, a missa de hoje, abre uma doce perspectiva que sustenta nossa conversão pascal, a partir da ressurreição do Cristo. A esperança no Senhor Ressuscitado que nos chama para a vida plena, para a ressurreição, a vida que não se acaba. O Espírito de Cristo nos faz viver pela justiça e sempre dá a vida aos corpos mortais. Em Romanos 6 que é a oitava leitura da vigília pascal São Paulo falou da integração do cristo no Mistério da morte e ressurreição de Cristo. Quando o homem só vive de seu próprio Eu, ele é carne, existência humana precária e limitada. Não pode agradar a Deus. Mas com a integração em Cristo, pelo batismo, receber o Espírito, que ressuscitou Cristo dos mortos. Contudo, experimentamos em nós mesmo, que esta transformação ainda não tomou completamente conta de nós. Por isso, nossa fé é também esperança: o Espírito de Deus nos transformará sempre mais, se lhe dermos suficiente espaço.
Jesus hoje está a caminho de Jerusalém (cf. Jo 11,1-45 ou 11,3-7.17.20-27.33b-45). É a sua última viagem. Em Betânia, que fica distante apenas 3 km de Jerusalém, faz o grande milagre da ressurreição de Lázaro, a doação da plenitude da vida. O próprio Cristo nos anuncia: Eu sou a Ressurreição e a Vida (cf. Jo 11,25), ligando com a liturgia do domingo precedente: Eu sou a Luz do Mundo, quem me segue não andarás nas trevas, mas terá a Luz da Vida.
No terceiro domingo da Quaresma, no episódio da Samaritana se falou em água viva, em água que jorra para a vida eterna, e o Senhor se apresente como quem é capaz de dar de beber esta água salvadora. No quarto domingo da Quaresma, Jesus se apresentou como a Luz do Mundo. A água e a luz fazem crescer, vivificar os seres vivos. Sem água e sem luz, temos a morte. Por isso, a partir da água e da luz, Jesus reafirma a sua divindade e o seu poder de dar a vida, e a vida plena, que não se acaba. Exatamente, isso, com caridade extrema, foi à atitude de Jesus a ressuscitar Lázaro.
Da morte de Cristo irrompe e nasce a vida plena. Os mortos ouvirão a voz do Cristo e brotarão ressuscitados, porque todo o homem que crer no Senhor não ficará morto para sempre.
Betânia era parada obrigatória para os peregrinos que iam a Jerusalém. Ali eles tomavam banho, se preparavam para entrar em Jerusalém. E não podia ser diferente com Jesus e com os apóstolos. E a parada de Jesus era a carta de Maria, de Marta e de Lázaro, seus amigos íntimos.
Mas, qual seria a grande lição do Evangelho deste domingo: as palavras de Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida.
A mesma pergunta de Jesus a Marta é a pergunta que devemos nos fazer hoje: Crês isto?
E, também, a resposta de Marta é a mesma resposta que Cristo espera de cada um de nós: Creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus!
Diante de um túmulo fechado, com choros e lamentações dos irmãos e dos conhecidos de Lázaro, estava a humanidade perdida e sem esperança. O homem é inerte perante a morte se não a contemplar com os olhos da doce alegria cristã, a esperança na vida eterna. Jesus chega diante do túmulo. Jesus, o homem-Deus, dá uma ordem e Lázaro revive. A morte não é obstáculo para Jesus, porque Ele a venceu, vence e sempre a vencerá, porque Ele é a vida sem fim. Neste gesto cândido e santo, de dar a vida a um mortal fiel, Jesus nos anuncia o nosso destino, se cremos Nele, vivermos Para Ele e Seguirmos os Seus Mandamentos, a sua Palavra de Salvação.
Ressurreição e Luz são dois temas intimamente ligados, porque são sinônimos da salvação: Se alguém caminha de dia, não tropeça; mas tropeçará, se andar de noite(cf. Jo 11,10).
O tema central do Evangelho de hoje é a vida. Vida que foi restituída a Lázaro e que está ligada à amizade, ao amor fraterno, a compaixão, atitudes cristãos que estão presentes na glorificação de Deus, que é o destino dos homens e mulheres que crêem verdadeiramente. A vida verdadeira, que o Cristo trouxe, tem face humana e face divina, que se misturam.
A ressurreição de Lázaro é um dos maiores sinais de Jesus. Jesus, assim, vai manifestando a sua filiação divina, seu poder messiânico, sua missão salvadora, e provoca, cada vez mais, a admiração, a fé, o testemunho daqueles que são beneficiados pela sua ação evangelizadora. O próprio Evangelista João anuncia que Jesus fez muitos outros sinais, e que Estes sinais foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, em crendo, tenhais a vida (cf. Jo 20,30-31).
Assim, poderíamos afirmar que a vida do homem é a razão de ser da encarnação de Jesus. Os milagres e sinais de Jesus foram efetuados para destacar a vida plena, a vida que só ele pode nos dar.
Na sua mensagem para a Quaresma de 2011, com sabedoria, nos preleciona o Santo Padre Bento XVI: Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto? (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27).A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n'Ele. A fé na ressurreição dos mortos a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos da água e do Espírito Santo, e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à ação da Graça para sermos seus discípulos.
Enxertados em Cristo pelo batismo, vencemos nossa morte na sua morte; co-ressuscitados no Cristo ressuscitado. É a vitória de cada homem batizado sobre a morte. É a vitória de toda a história sobre a morte, história que, na perspectiva cristã, não caminha para o caos final, mas para a ressurreição final. É a vitória da criatura sobre a morte; ela escapa à condenação na perspectiva dos céus novos e da nova terra. Essa perspectiva dá à vida tranqüilidade, serenidade interior, paz profunda, confiança e esperança. Em Cristo não há uma parcela de vida, por menor que seja, que não se destine à ressurreição.
Jesus afirmou: EU SOU A VIDA; EU SOU O PÃO DA VIDA, EU SOU A LUZ DA VIDA. Jesus veio ao mundo para despertar a criatura humana do sono.
E esta vida nova só será possível àqueles que viverem, com dignidade, a grandeza do seu batismo. Aderindo a Cristo o batizado deve viver uma vida realmente nova, animada pelo espírito de Cristo. Mas sem a fé, traduzida em obras, o batismo ficará morto. A vida da fé batismal se verifica, se atualiza, por exemplo, quando ela transforma a sociedade de morte numa comunidade viva de vida, de fraternidade e de comunhão.