* Este é o meu Filho muito amado! *
1ªLeitura - Gn 22,1-2.9-13.15-18: O sacrifício de Abraão.// 2ªLeitura - Rm 8,31-34: Deus não poupou seu próprio Filho.// Evangelho - Mc 9,2-10: Este é o meu Filho muito amado.//
A liturgia do 2º Domingo da Quaresma desenvolve-se a partir da figura de Abraão, o "pai dos crentes”, que pela sua fé acredita na voz de Deus impelindo-o a viver como nômade, indo de lugar em lugar conforme as decisões divinas (1ª Leitura). Está disposto a sacrificar Isaac, seu único filho, que sobe o monte levando às costas a lenha do sacrifício e sobre ela se deixa amarrar docilmente. O filho Isaac é imagem que prefigura o Cristo que subirá o Calvário levando o lenho da cruz sobre o qual se deixará estender. Sabemos que no Antigo Testamento o Deus-Pai intervém e não deixa que se complete o sacrifício do filho de Abraão. Entretanto, no Novo Testamento, o Pai permitirá que seja consumado o sacrifício de seu próprio Filho: "Ele não poupou o próprio Filho, mas o entregou por todos nós" (2ª Leitura). Quando Jesus fez o primeiro anúncio de sua Paixão provocou em Pedro, Tiago e João uma grande angústia, traduzida pelo escândalo da cruz. Entretanto, para confirmar sua divindade oculta e fortalecer a fé dos apóstolos, Jesus se transfigurou diante deles no monte Tabor: "Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar" (Evangelho). São os mesmos discípulos que um dia deverão assistir à agonia de Cristo no Getsêmani. A transfiguração de Jesus é uma antecipação da sua ressurreição. Da mesma maneira que Cristo, cabeça de seu corpo místico que é a Igreja se transfigura, também os seus membros conhecerão a transfiguração: "Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai" (Mt 13,43). São Paulo declara o mesmo, afirmando: "Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então vós aparecereis também com Ele, revestidos de glória" (Cl 3,4). O episódio da transfiguração mostra também a união do Antigo com o Novo Testamento: Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, aparecem conversando com Jesus que traz o Evangelho. De fato, as páginas de ambas as alianças se confirmam mutuamente como afirma São João: “Por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo” (Jo 1,17). Jesus é o grande esperado e prometido pelo Antigo Testamento. Quem é ele? Enquanto os apóstolos presentes no Monte Tabor ainda não entendem plenamente o que está acontecendo, a voz do Pai se manifesta: "Este é o meu Filho muito amado. Escutai o que ele diz. (Mc 9,7). A voz não convida para que eles admirem a transfiguração, mas simplesmente insiste que eles “O ouçam”. Ouvir a Jesus significa descer da montanha e ainda agüentar a ambigüidade da vida. Significa crer na luz do invisível dentro de um mundo embrutecido onde grita tudo o que é capaz de inebriar os sentidos. Também hoje, mais importante do que ver a transfiguração é poder ouví-Lo. Sua Palavra é a poderosa presença dele mesmo e nos conduz pela quaresma desta vida, garantindo-nos que após todas as promessas que o mundo nos traz, virá a certeza de sua Páscoa. A celebração da transfiguração só terá um sentido para a Igreja de hoje se ela estiver disposta a receber a admoestação final: “Ouví-o”. A esperança nos diz que a graça de Deus, que já começou um dia em nós de modo tão insignificante, virá a ser em plenitude a verdade nova e exclusiva do nosso ser. É melhor não fazermos as tendas aqui, nem com o pretexto de contemplarmos a glória do Senhor. É necessário descermos a montanha ouvindo e guiados por sua Palavra, “para servir a Deus e aos irmãos em justiça e santidade, enquanto perdurarem os nossos dias!”(Cântico: o Benedictus).
[Fontes: ”Intimidade Divina”, “A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração” e “Sermões de São Leão Magno, Papa” - adaptação: Dr. Wilson]
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