* O Mistério da Cruz *
1aLeitura - Jr 20,7-9: “Tornei-me alvo de zombaria, todos se riem de mim”.// 2aLeitura - Rm 12,1-2: “Eu vos exorto irmãos a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto”.// Evangelho - Mt 16,21-27: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo”.//
Não é apenas na Quaresma que a Igreja nos recorda os sofrimentos de Jesus e o seu significado na vida do cristão. Pregar a cruz de Cristo faz parte da mensagem habitual da Igreja e que hoje é abordada na liturgia.
A 1ª Leitura nos mostra o exemplo do profeta Jeremias que viveu dramaticamente sua total fidelidade a Deus. Do modo como foi perseguido e maltratado, por causa de sua vocação profética autêntica, apresenta-se como pré-figura de Cristo. As perseguições de que é alvo nos fazem lembrar os sofrimentos do Mestre e também os sofrimentos de muitos cristãos perseguidos que ofereceram e apostaram suas vidas pelo Evangelho em todos os tempos e na atualidade. Com este pensamento, vemos São Paulo na 2ª Leitura exortar-nos a que nos ofereçamos como oblação santa, hóstias vivas agradáveis a Deus. Assim, a Igreja, ao celebrar a Eucaristia, nos convida à união com o sacrifício de Cristo. Estendendo para o nosso trabalho quotidiano, o bem que fazemos e ‘a cruz de cada dia’, ligam-se à oblação que Jesus faz de si próprio.
No Evangelho da missa, Cristo fala aos discípulos sobre sua paixão e morte de cruz que estavam por vir. Pedro reage com veemêcia e sua resposta é quase uma súplica: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!" (Mt 16,23). Custava ao apóstolo desprender-se da concepção judaica do messias triunfante, libertador do jugo romano, e ter que aceitar um salvador destinado à morte de cruz. Há momentos onde o plano de Deus se opõe mais claramente à maneira de pensar dos homens: "Quanto os céus estão acima da terra, tanto os meus caminhos estão acima dos vossos caminhos" (Is 55,9).
O mesmo Pedro que, em virtude de sua confissão de fé, foi escolhido por Cristo como pedra viva sobre a qual é edificada sua Igreja, recebe do Senhor uma severa reprimenda por seus pensamentos puramente humanos, alheios ao plano de Deus, e diz-lhe: “Afasta-te, satanás!” São Paulo, consciente desta dificuldade, falava do "escândalo da cruz" [1 Cor 1,23]. No mundo atual conhecemos pessoas marcadas com grande carga de sofrimento e, apesar disso, profundamente humanas, maduras e ricas para os outros. Por outro lado, conhecemos outros aparentemente mimados pela sorte, mas desprovidos de humanismo e inúteis para a sociedade.
O peso ou sofrimento que atinge um membro da comunidade pode ser absorvido por este ou repassado a outrem, como são repassados os maus humores, as indelicadezas, a falta de solidariedade no trânsito, nas filas, etc., até que alguém interrompa esse "círculo vicioso do mal". Para que se quebre esse círculo é absolutamente necessário que haja um amor gratuito, que um justo sofra pelo injusto e então entendamos finalmente o insuperável amor de Cristo pelo homem ao "pagar a conta" dos nossos pecados pela sua morte de Cruz.
Para o cristão autêntico, negar-se a si mesmo e tomar a cruz, não é alimentar sentimento de resignação ou cair no fatalismo, e sim libertar-se do próprio egoísmo para que frutifique em nós a ação de Deus! Assim, a renúncia de si mesmo, longe de ser uma atitude negativa ou conformista, é na verdade a escolha positiva do querer seguir a Cristo. Do mesmo modo que se dirigiu aos servos nas bodas de Caná, Maria continua hoje dirigindo a nós o seu pedido: "Fazei o que Ele vos disser"! (Jo 2,5). [‘Fontes: Palavra de Deus e Nova Evangelização’, ‘L 'OSSERVATORE ROMANO’, ‘Falar com Deus’ e ‘A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração’ / adaptação: Wilson]
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